O presidente do Chega defendeu hoje a realização de eleições legislativas em 16 de janeiro e pediu "cautela" ao Presidente da República para que "não passe a ideia" que pode estar envolvido na disputa de liderança do PSD.
"A data de 16 de janeiro parece-nos uma data aceitável dentro do quadro da organização dos partidos e também de alguma celeridade e brevidade", defendeu André Ventura aos jornalistas, no final da audiência com o Presidente da República, que recebe hoje os partidos com assento parlamentar para discutir a dissolução do parlamento e a data das eleições antecipadas.
O líder do Chega disse ainda ter feito uma recomendação "pessoal" a Marcelo Rebelo de Sousa, pela qual pediu previamente desculpas, considerando que o chefe de Estado está a criar "uma perceção pública" - a que o Presidente seria alheio - de que "se podia estar a envolver numa luta interna de um partido".
"Remeter eleições para depois de 30 de janeiro pode passar a perceção pública que o Presidente se está a envolver num jogo interno de um partido e a apoiar um candidato em detrimento de outro", afirmou, recordando que Rui Rio quer eleições o mais rápido possível em janeiro e Paulo Rangel no final de fevereiro.
Questionado se o chefe de Estado manifestou alguma preferência por datas, Ventura disse estar convicto que Marcelo Rebelo de Sousa "está aberto" às várias posições.
"Não me parece que o Presidente da República já tenha fechada na sua cabeça uma data", disse.
André Ventura disse ser importante que os partidos, nomeadamente os de centro-direita que têm disputas internas previstas para este período, se possam organizar, mas defendeu que são as forças políticas "que têm de se adaptar ao país e não o contrário".
"O país não pode ficar com a perceção que o Presidente da República, sem justificação plausível, quis remeter eleições para mais tarde para que um candidato, ou uma fação do PSD, pudesse chegar a uma solução", defendeu.
Questionado se estes partidos devem adiar as suas eleições internas para depois das legislativas - como fez o CDS e já defendeu o presidente do PSD -, Ventura contrapôs que os líderes partidários têm de ter "legitimidade reforçada" antes das legislativas.
Por isso, no caso do Chega, apesar de estar em análise este fim de semana um possível adiamento do Congresso, as eleições diretas vão manter-se para o próximo fim de semana, numa disputa entre André Ventura e Carlos Natal.
"É evidente que a pressão sobre o Presidente da República é muito grande, e o Presidente não se pode deixar pressionar", considerou, no final de uma breve reunião em Belém, na qual esteve acompanhado pelo dirigente Nuno Afonso.
André Ventura reiterou que a responsabilidade da atual crise política é dos partidos da esquerda, recusando as críticas de alguns que consideram as eleições desnecessárias.
"O cimento que unia a base da solução de Governo falhou, é essa a razão por que o país precisa de eleições, não tem a ver com razões jurídico-constitucionais", afirmou, admitindo que, em tese, o Governo poderia apresentar novo Orçamento ou deixar o país em duodécimos, o que classificou como "um desastre nacional".
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recebe hoje, em Belém, os partidos com assento parlamentar para discutir a dissolução do parlamento e a data das eleições antecipadas.
As audiências decorrem por ordem crescente de representação parlamentar, começando com a Iniciativa Liberal e prosseguindo com o Chega, PEV, PAN, CDS, PCP, BE, PSD e PS.
Marcelo Rebelo de Sousa já divulgou o seu calendário de audiências até quarta-feira, quando reunirá o Conselho de Estado nos termos impostos pela Constituição para a dissolução do parlamento.
O Presidente da República tinha avisado que, a confirmar-se um chumbo do Orçamento, que se confirmou na quarta-feira, iria iniciar "logo, logo, logo a seguir o processo" de dissolução do parlamento e de convocação de eleições legislativas antecipadas.