O PSD criticou esta terça-feira a ação da União Europeia (UE) relativamente ao conflito na região de Cabo Delgado, em Moçambique, dizendo que ficou "muito aquém daquilo que era esperado".
Numa intervenção na comissão de Assuntos Europeus, dirigida ao eurodeputado do PS Carlos Zorrinho, o social-democrata António Cunha começou por recordar que "a dinamização e a densificação do relacionamento UE-África" é uma das prioridades da presidência portuguesa do Conselho da UE e que, segundo o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, também o "apoio europeu a Moçambique" é um tópico prioritário.
Apontando que "o norte de Moçambique continua a viver a mesma onda de violência em que vive desde há três anos, debaixo de uma violência extrema e contínua, com casas roubadas e destruídas, funcionários públicos que se recusam a ir trabalhar - portanto, um autêntico cenário de guerra pintado de horrores e devastação", António Cunha criticou a falta de ação da UE e lamentou que "nem mesmo o Alto Representante para a Política Externa, Josep Borrell, foi capaz de se deslocar" à região.
Para o parlamentar social-democrata, a atitude da UE "ficou muito aquém daquilo que era esperado", perguntando a Carlos Zorrinho, que foi relator do relatório sobre uma nova estratégia UE-África, se o bloco comunitário "fez ou tem feito tudo o que é possível para ajudar a população de Cabo Delgado" e "se há apoios efetivos que estão a ser prestados pela UE e pelo Governo português em Moçambique".
O eurodeputado socialista rejeitou as críticas, afirmando que, "se dependesse da UE, certamente que há muito tempo que o problema de Cabo Delgado estava resolvido".
"A questão é que a situação no terreno é de uma enormíssima complexidade", justificou, apontando "muitos interesses em jogo, investimentos muito complexos e uma componente de radicalização".
Segundo Carlos Zorrinho, houve um "silêncio ensurdecedor" inicial não só da parte da UE, como também das autoridades moçambicanas e de países vizinhos da região, como a Tanzânia e a África do Sul.
Por isso, o eurodeputado considera que "foi importante que a UE tivesse tido a coragem de enviar o ministro dos Negócios Estrangeiros" a Cabo Delgado, que "reuniu com as autoridades, definiu um plano de apoio logístico, um plano de apoio humanitário e também um conjunto de regras para preparar com Moçambique, com a UE e com Portugal, a resposta à situação em Cabo Delgado".
"Infelizmente, as informações que eu tenho é que muitas vezes não é fácil trabalhar com as autoridades no terreno para definir esses planos. As populações de Moçambique querem muito ser ajudadas, mas há quem esteja no terreno que não quer que essa ajuda se faça. Nós vamos continuar a lutar para que elas sejam ajudadas", concluiu.
A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, iniciou-se em 2017 e está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas.
Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019.