O número de descolados registados após o ataque à vila de Palma, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, ultrapassou os 40 mil, indicou a Organização Internacional das Migrações (OIM).
"No dia 6 de maio, um número estimado de 917 deslocados internos foram registados nos distritos recetores, elevando o número total para 40.003 pessoas que foram deslocadas de Palma", de acordo com o mais recente relatório da agência das Nações Unidas.
A população em fuga deverá ser maior, dado que parte dela pode não ser registada e haverá ainda famílias escondidas nas matas da região.
"Os deslocados continuam a chegar a Nangade a pé", seguindo depois em viaturas de transporte coletivo "de Nangade para Mueda, Montepuez e Pemba", acrescentou o documento.
Dos 40.003 deslocados, 43% são crianças (ou seja, 17.200), 491 das quais desacompanhadas. Há ainda 1.357 idosos registados, disse a OIM.
A maioria (81%) dos deslocados registados está a ser albergada por famílias de acolhimento.
Há ainda milhares de pessoas, numa estimativa de pelo menos 11.000, junto aos portões do projeto de gás em Afungi e na nova aldeia de Quitunda que não querem regressar a Palma devido à insegurança e têm dificuldade em encontrar uma forma de chegar a locais seguros, referiu.
Na última semana, a OIM pediu às autoridades moçambicanas medidas que facilitem o trabalho humanitário.
"A OIM apela a um acesso humanitário total e a uma redução dos impedimentos burocráticos, incluindo a emissão de vistos [para especialistas da ONU], para garantir uma prestação oportuna e eficiente da ajuda humanitária", assim como "um maior e estratégico envolvimento com o Governo", referiu a chefe de missão da OIM em Moçambique, Laura Tomm-Bonde.
Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, numa onda de violência que já causou mais de 2.500 mortes, apontou o projeto de registo de conflitos ACLED, e 714 mil deslocados, de acordo com o Governo moçambicano.
Um ataque a Palma, junto ao projeto de gás em construção, em 24 de março, causou dezenas de mortos e feridos, ainda sem balanço oficial anunciado.
As autoridades moçambicanas recuperaram o controlo da vila, mas o ataque levou a petrolífera Total a abandonar o recinto do empreendimento que tinha início de produção previsto para 2024 e no qual estão ancoradas muitas das expetativas de crescimento económico de Moçambique na próxima década.