Na “democracia iliberal” da Hungria, assim como na Polónia, os respetivos governos não gostam de imigrantes. Para rejeitar acolher trabalhadores estrangeiros a propaganda oficial invoca a defesa do que chama a herança cristã da Europa e a preservação das identidades nacionais, além da segurança. Recentemente, Hungria e Polónia opuseram-se a partilhar imigrantes na União Europeia, inviabilizando uma proposta da Comissão.
Este era o retrato da situação até há pouco. Perante uma aguda carência de trabalhadores polacos e húngaros, e a incapacidade de inúmeras empresas de efetuarem o seu trabalho por falta de pessoal, os governos dos dois países decidiram aceitar imigrantes temporários (até três anos na Hungria), pessoas que “estão aqui apenas para trabalhar”, na voz de um autarca polaco.
Ou seja, importam-se pessoas como se fossem máquinas. O que nada tem de cristão e viola princípios elementares de humanidade.
Não é que a Hungria e a Polónia tratem mal os migrantes temporários, mas não os tratam como pessoas. Um presidente de câmara húngara explicou ao Washington Post (em reportagem também publicada no jornal Público de 29 de agosto): “a diferença entre a imigração a que nos opomos e a imigração temporária é o controlo”.
Imagina-se o que será a vida desses migrantes temporários durante a sua curta estadia na Hungria e na Polónia. Uma vida reduzida ao trabalho e às dormidas em contentores e instalações de plástico.
Mas nós, portugueses, temos pouca autoridade moral para criticar estes dois países. Teoricamente, nós acolhemos bem os imigrantes; mas, no concreto, milhares deles vivem em condições sub-humanas em apartamentos onde se alojam dezenas e muitos até dormem na rua – pois há muitos imigrantes em Portugal que são sem-abrigo. Também entre nós existem situações na área da imigração que têm muito pouco a ver com uma inspiração cristã.