Estava a ser apontado como o trunfo do dia. Francisco Louçã esteve, pela primeira vez, de viva voz nesta campanha do Bloco de Esquerda (BE) para as eleições europeias. Num comício no Porto, o fundador e antigo líder do partido esteve ao ataque contra o que designou como a política suja e degradante.
Entre os visados estão, nas palavras de Louçã, Sebastião Bugalho, Marta Temido e João Cotrim de Figueiredo. Em causa, as posições dos respetivos partidos sobre o Pacto para Migrações e Asilo.
No entender do antigo líder bloquista, votaram a favor, enquanto dizem que vão lutar por melhorar o documento quando, na verdade, “não há uma vírgula que vá mudar no que foi acordado”.
“Votaram com uma certeza de que farão sempre o contrário daquilo que nos dizem. Pedem-nos que confiemos neles, com a certeza absoluta de que não podemos confiar, porque nos propõem um voto, dizendo que discordam dele. Não acreditam em si próprios e querem que nós acreditemos. E fazem isso sobre o sofrimento dos imigrantes”, diz Louçã: “É uma forma de política suja”.
Já quanto ao Chega, o fundador do BE acusa o partido de André Ventura de estar a querer proibir a entrada de mais imigrantes no país, exceto se tiverem dinheiro. "Querem novos Vistos Gold”, diz Louçã. Para o Chega, “quem tem dinheiro, não importa que não fale português". Só é preciso que “fale dinheirês” para entrar em Portugal. “Não há política mais degradante e mais suja”, concretiza.
“Onde está o prisioneiro? Não quis vir...”
Mas as críticas ao Chega não ficam por aqui. Perante os apoiantes presentes no comício da noite no Porto, Francisco Louçã lembrou recentes declarações do candidato do Chega, Tânger Corrêa, quando disse “que tinha uns amigos americanos com os quais definiu um plano”.
Depois percebeu-se “que os amigos não são americanos”, para depois dizer que “não são bem amigos, são conhecidos” e que “o plano é segredo”. “Isto parece a anedota do soldado. Meu capitão, fiz um prisioneiro. Onde é que está o prisioneiro? Não quis vir”, ironiza Francisco Louçã.
Já a João Cotrim de Figueiredo, Louçã critica a opção de ter proposto o livro "Capitalismo e Liberdade" de Milton Friedman, para Catarina Martins ler. “Eu acredito que ele sabe perfeitamente quem é Milton Friedman", e isso é pior “do que não o conhecer”. “Porque Milton Friedman foi um apoiante de uma ditadura”, diz o fundador do Bloco, que acredita que o partido pode eleger dois deputados a 9 de junho.
Catarina quer sanções para a Alemanha
No mesmo comício, a cabeça de lista do BE disse que, se for eleita para o Parlamento Europeu, vai propor uma sanção política para o Governo alemão, para travar o envio de armas para Israel. "Espero que os parceiros dos socialistas, dos Verdes e dos liberais alemães me apoiem nesta proposta. Seja qual for o resultado destas eleições. Marta Temido. Francisco Paupério e Cotrim de Figueiredo, a vossa voz é necessária, façam ouvir-se", desafiou.
Catarina Martins também deixou um repto ao cabeça de lista da Aliança Democrática: “Se há decência na AD, também nos deviam apoiar. Eu ouvi, e o Sebastião Bugalho há de ter ouvido também, Moreira da Silva, dirigente do PSD, que foi candidato a presidente do PSD e que é hoje sub-secretário geral da ONU, a contar o que viu quando visitou Gaza durante esta guerra. Disse ele e cito, que viu uma catástrofe humanitária sem precedentes”.
Ainda sobre o conflito no Médio Oriente, a candidata do BE diz registar com agrado que “o Partido Socialista, que dizia até há pouco que reconhecer o Estado da Palestina só deveria acontecer quando viesse o tempo certo”, finalmente agora diz que é necessário fazê-lo imediatamente. “Ainda bem, o Governo português deve fazer o mesmo”, desafia.