O padre espanhol Lucio Angel Vallejo Balda e a leiga italiana Francesca Chaouqui foram detidos este fim-de-semana pela polícia do Vaticano, sob suspeita de terem divulgado informação confidencial da Santa Sé a jornalistas.
Os dois eram respectivamente membro e secretário da comissão criada pelo Papa em 2013 para supervisionar a reorganização da cúria romana, nomeadamente das divisões económicas e administrativas. Depois da extinção dessa comissão, a maioria dos membros, incluindo o padre Balda, passou para uma nova comissão económica, mas Chaouqui não foi reconduzida.
Num comunicado emitido pela Santa Sé esta segunda-feira, explica-se que Chaouqui foi libertada depois de ter manifestado vontade de colaborar com a investigação. Balda, que era actualmente secretário da prefeitura para os assuntos económicos da Santa Sé, permanece detido. Não há memória de um funcionário tão alto da Santa Sé ser detido no Vaticano.
A notícia da detenção surge três anos depois do escândalo Vatileaks e a poucos dias do lançamento de dois livros, escritos por jornalistas italianos, que prometem revelar escândalos do Vaticano. Sem dizer directamente que os dois factos estão ligados, o comunicado do Vaticano fala também dos dos livros, acusando os seus autores de beneficiarem de uma "séria violação da confiança do Papa" e de actos ilícitos.
Nomeação polémica
A nomeação de Francesca Chaouqui nunca foi pacífica. Nomeada com apenas 30 anos, a especialista em Relações Públicas viu-se imediatamente envolvida numa série de escândalos, incluindo mensagens do Twitter acusando o cardeal Bertone de ser corrupto e alegando que o Papa Bento XVI sofria de leucemia.
Francesca Chaouqui negou a autoria das mensagens, dizendo que eram montagens, e culpou os inimigos da reforma levada a cabo pelo Papa Francisco de a tentarem descredibilizar.
Quando foi canonizado o Papa João Paulo II, Francesca Chaouqui participou numa festa luxuosa no terraço de um edifício do Vaticano. Na altura, soube-se que o Papa Francisco tinha ficado furioso com as despesas da festa e foi dito que a especialista em relações públicas tinha organizado o evento, algo que também negou.
Quem é o padre Vallejo Balda?
O padre Lucio Angel Vallejo Balda tem cerca de 55 anos e é oriundo de Espanha, onde foi ordenado padre na Sociedade Sacerdotal de Santa Cruz, do Opus Dei. Em 2011 foi um dos principais organizadores das Jornadas Mundiais da Juventude, em Madrid.
As suas capacidades administrativas ao serviço da diocese de Astorga chamaram a atenção do Vaticano, que o nomeou para a prefeitura dos assuntos económicos.
Apesar de ter sido nomeado como secretário, o documento oficial da nomeação dava-lhe também "poderes de delegação e para agir em nome de e em representação da comissão na recolha de documentos, dados e informação necessária para o desempenho das funções institucionais".
O Opus Dei já reagiu à notícia da sua detenção. Num comunicado, o gabinete de informação revela "surpresa e dor" com a acusação de que o padre é alvo, sobretudo, lê-se, porque "a ser certa, seria particularmente doloroso pelos danos feitos à Igreja".
A organização esclarece que a Fraternidade de Santa Cruz apenas presta apoio espiritual aos seus membros, não tendo o direito de interferir no ministério pastoral ou no trabalho que desenvolvem ao serviço da Igreja.
"Monsenhor Vallejo foi chamado a trabalhar em Roma pela Santa Sé, de acordo com o seu bispo. A prelatura do Opus Dei não interveio nem soube da decisão até ser tornada pública. Os superiores de Monsenhor Vallejo são os da Santa Sé e o bispo da diocese onde está incardinado", explica a nota, que acrescenta que o Opus Dei não sabe nada sobre o processo que envolve este sacerdote.
[Notícia actualizada às 19h04]