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Patrícia Gonçalves e o marido trabalham na mesma multinacional e há meses que estão em teletrabalho. Lá em casa são sete, a maioria do tempo.
“Nós temos quatro crianças – sendo que uma é do Ricardo e não vive a tempo inteiro connosco, mas está connosco também bastante tempo. Além disso, temos a minha mãe, que é doente de Alzheimer e que tem estado connosco agora durante esta fase”, explica Patrícia.
Em matéria de ensino à distância, já teve, no ano passado, uma experiência com resultados distintos, porque “tem crianças no privado e no público, e a forma como foram tratados na altura foram diferentes”.
Os que estavam no privado “tinham aulas a manhã toda, normais, com os seus professores”. Já os que estavam na escola pública, “uns tinham telescola, outros tinham uma aula hoje, outra amanhã. E nós não sabemos como vai ser agora”.
O que sabe, desde já, é que a inércia tomou conta das crianças.
“Mesmo em termos de raciocínio e de desenvolvimento, eu acho que isto é prejudicial para eles. São horas infindáveis de TikTok e de jogos que lhes tiram a dinâmica e o interesse pelo aprender. Embrutecem, não é bom para crianças que estão a crescer e a desenvolver-se. Precisam de estímulo”.
Estímulo que virá daqui a uma semana. Até lá, reina a ansiedade em torno dos horários das crianças que estão no ensino público. Porque para a filha que tem no privado, já foi tudo definido, pois “já tem indicação da escola que está tudo preparado. Vão ter a manhã toda preenchida, com aulas de ginástica, o inglês, a música. Tudo Igual. Os outros, que estão no público, não fazemos sequer ideia do que vai acontecer”.
Mesmo assim, Patrícia e o marido já prepararam a logística. Já têm computadores para todos, “porque tivemos essa possibilidade”. Têm os quartos “mais ou menos orientados” e espaço para que eles fiquem divididos. “E aumentámos a largura de banda da nossa internet”, de forma a evitar problemas.
André Frescata fez o mesmo. Em casa com três filhos, teve de melhorar a velocidade na internet, porque “da última vez estava a trabalhar também, a partir de casa”. De resto, com a experiência que já teve, “eles já se habituaram às ferramentas informáticas”. Por isso, espera que tudo corra melhor.
Mas o que mais preocupa é que o digital, na sua opinião, esteja a mudar a vida das crianças. “Aumentou muito na vida deles. Eu noto o mais novo, como é rapaz, que saía mais para jogar à bola ou fazer outras coisas. Como agora não sai, joga mais”.
Os dois filhos de António Morão, tal como os pais, também vivem na ansiedade de saber os horários das aulas à distância. “A única coisa que sabemos é que haverá aulas online. E é a única informação que temos”.
Em matéria de preparativos, já tem uma estratégia delineada. “Vamos acompanhar mais do que no ano passado”, explica António, que não quer deixar os filhos no computador ou no tablet sozinhos”, a terem aulas.
Tudo isto em simultâneo com o trabalho à distância. Nesta matéria, Patrícia Gonçalves admite que não é tarefa fácil, porque se perde muita coisa, já que “há momentos em que uma pessoa se distrai com o que está a acontecer no seu trabalho”. Porque “não é possível estar em todos os lados ao mesmo tempo”.
Filipa Faria, mãe de duas crianças, também conseguiu trabalhar, com o marido, a partir de casa, enquanto os filhos tinham aulas à distância. Nem que para isso tivesse de “utilizar os fins de semana, compensando com o que não conseguia trabalhar durante a semana”.
Também ela enfrenta a dúvida quanto ao dia a dia, a partir de dia 8, porque se já sabe os horários da filha, que está no 1º ciclo; do rapaz, que está no secundário, nada sabe. Mesmo estando os dois no mesmo agrupamento de escolas.