Com a gripe a provocar um pico de mortalidade só comparável ao período da pandemia, surgem dúvidas sobre a eficácia da companha de vacinação que este ano passou a ser feita diretamente nas farmácias.
O antigo presidente do colégio de medicina geral e familiar da Ordem dos Médicos, Paulo Santos, considera que as farmácias podem ser “uma forma muito interessante para resolver e melhorar as taxas de cobertura” vacinal , mas é preciso garantir que existe uma rede devidamente preparada para dar resposta às solicitações.
“Temos que ter uma estrutura que permita que as farmácias operem nesta área e não assumir simplesmente porque a Associação Nacional de Farmácias disse que estava tudo pronto, que de facto está tudo pronto”, criticou.
O médico e investigador da Universidade do Porto alega que a estrutura antes existente, baseada nos centros de saúde tinha provas dadas e funcionava, ao contrário da “ estrutura das farmácias que ainda não estava montada” e “aparentemente não funcionou tão bem”.
Questionada pela Renascença, a presidente da Associação Nacional de Farmácias, Ema Paulino , fez uma leitura diferente da campanha de vacinação desenvolvida até ao momento, afirmando “que o balanço é bastante positivo ”.
A dirigente realça que o número de inoculações efetuado até 31 de dezembro é semelhante ao de 2022, ainda que a campanha de vacinação tenha começado mais tarde.
“Nós tivemos as vacinas três semanas mais tarde e chegámos ao final do ano com o mesmo número de pessoas vacinadas , o que significa que aceleramos a vacinação este ano”, valorizou Ema Paulino, sublinhando que houve “várias semanas” em que foram suplantados os valores de 2022 em mais de 100 mil administrações .
No entanto, a taxa de vacinação contra a gripe está quase 10 pontos percentuais abaixo dos números finais da época passada. O valor global referido pelo Vacinómetro é de 73,4%, abaixo da meta de 75% recomendada pela Organização Mundial de Saúde.
Para este desempenho inferior ao esperado podem ter contruído "falhas na comunicação". Paulo Santos lembra que até este ano "as pessoas eram convocadas para ir ao centro de saúde . Nós criávamos mecanismos de telefonar às pessoas, de lhes mandar um postal para irem lá fazer uma vacina da gripe".
Assim, a campanha da gripe era preparada com grande antecedência pelo centro de saúde . “Nós começávamos a passar a receita da gripe em agosto e as pessoas já sabiam que depois tinham até ao fim do ano. Este reforço que existia e que funcionava na realidade, este ano desapareceu”, lamenta o especialista em medicina geral e familiar.
Uma situação que, apesar de preocupante, ainda pode ser invertida nas próximas semanas, pois a campanha de vacinação sazonal (para a gripe e covid-19) continua a decorrer.