A presidente da Cáritas portuguesa, Rita Valadas, considera assustadores os números divulgados, esta quarta-feira, pelo primeiro Barómetro Europeu sobre Pobreza e Precariedade. Em declarações à Renascença, Valadas explica que os números agora conhecidos são inéditos e que há cada vez mais pessoas em situação de pobreza.
"Não é de estranhar que as pessoas que começaram - já há muito tempo e com crises sucessivas - a encontrar soluções alternativas para cortar tudo quanto podiam cheguem a este ponto. É assustador porque, de acordo com o estudo, 50% das pessoas não têm capacidade para pagar as suas despesas mensais. Nós, neste momento, estamos a falar de 50%. Nós nunca falamos de 50% de pessoas em situação de pobreza", alerta.
A presidente da Cáritas realça que os indicadores presentes no Barómetro revelam "pessoas que têm vindo a ver a sua capacidade de reagir a estas crises sucessivas, aos encontrões que levam na capacidade de usar o seu rendimento para pagar despesas que são, cada vez mais, de primeira necessidade. E são novas, não são as mesmas pessoas", esclarece.
"Nós somos um país absolutamente fantástico no que diz respeito à solidariedade. Durante o tempo de pandemia houve um aumento de solidariedade que foi importantíssimo, porque o setor solidário foi inquestionável no apoio e na resolução das situações mais difíceis."
"Tínhamos famílias que eram doadoras e que estão, neste momento, a passar dificuldades"
A presidente da Cáritas distingue as estatísticas da realidade que diz ver na rua. Designando-se "técnica do terreno", considera que, "se olharmos só para os números, se calhar conseguimos fazer uma estatística bonita". "Mas eu sou técnica do terreno e as pessoas não saíram da situação".
Rita Valadas esclarece que o setor social não está a ser capaz de retirar as pessoas da situação de pobreza.
"Tristemente - eu gostava muito de não ter que dizer isto, mas o que nós estamos a falar são pessoas de quem o setor solidário cuida, não retirando da pobreza porque não conseguimos sair da emergência."
A dirigente dá o exemplo da campanha "inverter a curva da pobreza", que a organização humanitária lançou em 2020 e mantém a decorrer, que ficou "muito àquem das necessidades".
Valadas alerta, ainda, que o estrangulamento financeiro das pessoas está a comprometer as doações e a dificultar o trabalho do setor solidário.
"Os donativos já vêm sendo cada vez menores. Nós temos famílias que eram doadoras e que estão, neste momento, a passar dificuldades, para as quais nós tivemos de encontrar soluções, porque elas próprias também estão em situação de risco", remata.