Entre Ovar e a Murtosa, concelhos vizinhos, ainda há quem teime em furar a cerca sanitária. Em declarações à Renascença, o presidente da câmara muncipal da Murtosa, Joaquim Baptista, admite um cenário de desobediência civil que, não sendo generalizado, tem sido visível.
"A reação imediata à cerca sanitária em Ovar gerou nas pessoas a tentativa de procurar alternativas aos bloqueios montados pelas forças de segurança. Temos conhecimento de que houve tentativas, umas mais bem sucedidas do que outras, de procurar alternativas, tanto pedonais como rodoviárias", diz o autarca.
Joaquim Batista desaprova a conduta destes cidadãos, apenas atenuada pelas exceções que vêm ser aplicadas a habitantes que, por exemplo, vivem em Ovar e continuam a trabalhar em Estarreja.
"As excecionalidades geram alguma confusão por parte das autoridades de segurança e alimentam nos restantes cidadãos a expetativa de que essas exceções também lhes possam ser aplicadas", confessa.
Nesta entrevista, o autarca dá outros exemplos de como não está a ser fácil às autoridades fazer vingar o bloqueio à circulação de pessoas entre a Murtosa e Ovar.
"Existe literalmente um controlo fronteiriço da estrada nacional 327, impedindo a circulação das pessoas, mas subsistem algumas situações confusas sobre atividades comerciais, nomeadamente padarias do concelho de Ovar que têm clientes do lugar das Quintas do Norte, na freguesia da Torreira", já no concelho da Murtosa,
Igualmente afetada está a venda ambulante de pescado feita na Murtosa por alguns operadores que residem em Ovar, e que desde esta sexta-feira não é permitida. Menos problemas estão a criar os pescadores da ria de Aveiro, porque, segundo Joaquim Baptista, "a pesca está praticamente encerrada na ria. Por imperativo legal um agente económico de Ovar teve que encerrar a sua atividade, outro é da freguesia da Torreira, mas a interação e as relações de atividade também o condicionam e acabou por cessar".
Olhar para o lado, à espera que vírus fure a cerca
Quando os murtoseiros acordam pela manhã, a ria de Aveiro, que antes espelhava sol, é agora reflexo das preocupações geradas pela Covid-19. O autarca Joaquim Batista sabe que, mais dia menos dia,o novo coronavírus entrará no concellho, com a invisibilidade e a silenciosa crueldadeque o caraterizam.
"O que está a acontecer em Ovar preocupa-nos a todos. Eu não me consigo consolar apenas com os números que tenho. Felizmente, neste momento, ainda não temos qualquer caso registado na Murtosa, mas a circunstância que estão a viver os nossos vizinhos de Ovar, inevitavelmente, num futuro, mais ou menos próximo, acabará por chegar até nós", conclui.