O regresso de Donald Trump à Casa Branca, depois da vitória nas eleições norte-americanas “é, claramente, a única hipótese para a Europa descolar dos Estados Unidos”, defende na Renascença o presidente da Associação Comercial do Porto.
No habitual espaço de comentário semanal no programa ‘Manhã, Manhã’, Nuno Botelho lembra que “estamos habituados a que a Europa só à força se reforme” e que o regresso de um Presidente norte-americano mais distanciado do histórico aliado europeu abre o caminho para que, “de uma vez por todas, consigamos implementar o Plano Draghi... A Europa tem de acordar e deixar de se deixar ficar para trás e em matéria de competitividade”.
O mesmo se aplica ao nível da segurança e da manutenção de paz, num quadro em que a guerra na Ucrânia continua a representar uma ameaça para a Europa que integra a NATO.
“Zelensky deve estar muito preocupado [com a vitória de Donald Trump], porque, ou a Europa lhe dá a mão, ou vai ser muito complicado, porque já todos percebemos que Trump irá resolver o conflito”, mas, muito provavelmente, sem se aproximar da paz justa que Kiev reclama.
Mas Botelho identifica outro problema: “vamos supor que chegamos a um ponto de paz na Ucrânia… E depois? Putin para por ali? Por isso, ou a Europa consegue criar condições para se transformar numa ameaça dissuasora para Putin, ou vamos ter problemas muito sérios na Europa”.
Noutro plano, o empresário e jurista vê com preocupação os episódios de violência que envolveram adeptos do Maccabi Tel Aviv e ativistas pró-Palestina, em Amesterdão, após o encontro para a Liga Europa entre o clube israelita e o Ajax.
Vídeos divulgados nas redes sociais mostram a polícia de choque a intervir nos confrontos ocorridos na noite de quinta para sexta-feira na capital dos Países Baixos, com atacantes a gritarem insultos anti-israelitas.
“Este problema do antissemitismo é algo que está a crescer, principalmente no centro da Europa”, assinala.
“Quem viaja percebe que há comunidades muçulmanas radicais que constituem guetos e a Europa está a deixar essas pessoas entrar para viverem segundo os seus costumes e acharem que isso é que é normal”, acrescenta.
Questionado sobre qual a fórmula ideal para regular esse fenómeno, sem alimentar os extremos políticos à esquerda e à direita, o presidente da Associação Comercial do Porto começa por referir que a imigração desregulada “é que está a dar os trunfos” a esses extremos.
“Foi isso que deu parte da vitória a Trump e que deu origem ao Brexit no Reino Unido”. Dito isto, Nuno Botelho sublinha que “precisamos dos imigrantes, mas tem de se estabelecer regras. De outra forma, os extremistas, principalmente os de direita, vão tomar conta disto”.
Norte da semana
Seminário Diplomático no Porto. “É o meu Norte da Semana, e desta vez em causa própria. A Associação Comercial do Porto vai acolher esta etapa do Seminário Diplomático, que é o evento que acolhe todo o corpo diplomático português. No dia 8 de janeiro, irá versar sobre temas de diplomacia económica. Esteve bem o Governo a dar um sinal de descentralização para a região que mais exporta no país”.
Desnorte da semana
Ricardo Leão e o debate sobre habitação social. “À boleia das declarações precipitadas e pouco ponderadas do autarca de Loures, surgiu um debate surrealista no país, com base no argumento do Direito Constitucional à habitação, defendendo o não despejo das pessoas. Presume-se que, em qualquer circunstância, mesmo que essas pessoas criem tumultos, violem todas as regras e façam crimes, não podem ver rescindidos os seus contratos de arrendamento. Isso é socialmente injusto, sabendo que há muita gente que procura habitação social, cumprindo as regras. Se há filhos que correm o risco de serem despejados por crimes cometidos pelos pais, então, esses pais têm de sentir que isso não pode acontecer. Há rendimentos mínimos, há subsídios diversos, há apoios sociais ao nível escolar e uns não podem viver à custa dos outros. Sob pena de, uma vez mais, o discurso populista vencer”.