O bispo de Setúbal presidiu este sábado à inauguração de uma estátua de D. Manuel Martins na primeira paróquia que criou quando chegou à diocese, há 43 anos, e disse que ele continua a ser uma “inspiração” na atualidade
“É um primeiro bispo que nos deixou uma grande inspiração, a muitos níveis, como homem de uma Igreja que colocou as pedras que ainda hoje constituem as suas caraterísticas, seja no domínio da fé, na maneira de ver a Igreja fraterna, ativa e participativa”, afirmou D. José Ornelas na paróquia da Charneca da Caparica.
Em declarações à agência Ecclesia, o bispo de Setúbal recordou o “homem de diálogo” que foi D. Manuel Martins, as pontes que criou, seja “a nível político como social” e que “ainda hoje perduram”, nomeadamente no que diz respeito às questões sociais.
D. José Ornelas referiu que a Diocese de Setúbal continua hoje a procurar a “mesma atitude participativa” e comprometida na procura de soluções para os vários problemas da sociedade.
Para o pároco da Charneca da Caparica, padre Francisco Mendes, a inauguração da estátua de D. Manuel Martins no adro da igreja paroquial é uma homenagem da “filha mais velha” do primeiro bispo de Setúbal.
“Esta foi a primeira paróquia da diocese de Setúbal que ele criou após ter sido ordenado bispo, passados nem dois meses”, lembrou o sacerdote responsável pela paróquia no Concelho de Almada em declarações à agência Ecclesia.
“Todos os dias 8 de dezembro de manhã, D. Manuel Martins estava por aqui, vinha celebrar, crismar, estar com os mais pobres, almoçar e depois dirigia-se para a Sé para celebrar, como clero e o povo, o Dia da Diocese, que também é hoje”, acrescentou.
Para o padre Francisco Mendes, permanece na comunidade da Charneca da Caparica, no Concelho de Almada, uma proximidade “muito especial” a D. Manuel Martins, que “marcou pelo seu exemplo” toda a sociedade.
Presente na cerimónia, a presidente da Câmara Municipal de Almada disse que a inauguração da estátua é a “melhor comemoração” dos 43 da criação da paróquia e recordou a determinação do primeiro bispo de Setúbal no “único e verdadeiro combate”, o de dar voz a quem “não consegue ter voz”.
“Essa é uma das grandes missões da Igreja e também da ação política: em qualquer circunstância, nunca esquecer aqueles que nunca conseguem ter voz, que são obrigados a procurar novos abrigos, que emigram, que procuram a paz e fogem da guerra ou os que, pela idade, estão isolados, nas suas casas”, disse Inês Medeiros.
O primeiro bispo da Diocese de Setúbal, D. Manuel da Silva Martins, nasceu em Leça do Balio, na Diocese do Porto, a 20 de janeiro de 1927, onde também faleceu 24 de setembro de 2017.
Ordenado sacerdote em 1951, após a formação nos seminários do Porto, estudou depois Direito Canónico em Roma, na Universidade Gregoriana.
Foi pároco de Cedofeita, no Porto, entre 1960 e 1969, quando foi nomeado vigário-geral da diocese nortenha em 1969, antes ir para Setúbal.
Na Conferência Episcopal Portuguesa D. Manuel Martins foi presidente da Comissão Episcopal da Ação Social e Caritativa e da Comissão Episcopal das Migrações e Turismo, tendo sido também presidente da Secção Portuguesa da Pax Christi e da Fundação SPES.
A 23 de abril de 1998, o Papa João Paulo II aceitou o seu pedido de resignação ao cargo de bispo de Setúbal.
O bispo emérito foi agraciado com a grã-cruz da Ordem de Cristo, durante as comemorações do 10 de junho de 2007, em Setúbal, e com o galardão dos Direitos Humanos da Assembleia da República, a 10 de dezembro de 2008.