Florbela Lima, responsável da EY, considerou hoje "possível" mas "difícil" que existam devedores não identificados pela auditoria à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD).
"É possível, é. Acho que será difícil nós pelo menos não termos identificado os devedores onde existem maiores perdas", respondeu a 'partner' da EY à deputada do BE Mariana Mortágua em comissão parlamentar de inquérito, quando questionada se era possível que existissem "grupos que em si devam muito mais e tenham uma exposição superior mas que não estavam identificados como tal".
No entanto, em termos de exposições de crédito, os deputados "não conseguirão ter uma análise da posição total desse devedor, apenas a informação relativa a determinada operação”, salientou a responsável.
A pergunta da deputada bloquista fazia referência ao Grupo Espírito Santo (GES), que também foi abordado pelo CDS-PP.
A deputada centrista Cecília Meireles perguntou se o grupo apontado na auditoria como responsável pelos resultados negativos de 2014 e 2015 era o GES, ao que Florbela Lima respondeu afirmativamente.
Na página 16 do relatório da auditoria da EY à CGD, é revelado que os resultados de 2014 e 2015 "foram influenciados negativamente com imparidades sobre um Grupo financeiro nacional", ficando agora claro de que se trata do GES.
Quando ficou em discussão se os deputados poderiam analisar a informação da EY que não ficou patente no relatório da auditoria, Florbela Lima alertou para a quantidade de informação.
"Obviamente que temos informação e a podemos enviar, a questão é que tendo em conta aquilo que pretendem e as conclusões a que pretendem chegar, olharem para a informação tal como nós olhámos desde o início e fazer os mesmos passos, vão demorar exatamente o mesmo tempo que nós demorámos", ou seja, 11 meses, disse a responsável.
Contratos de quatro dos 25 créditos mais problemáticos não foram disponiblizados à EY
A auditora EY admitiu hoje no parlamento que não lhe foi disponibilizada documentação relativa a contratos de quatro dos 25 créditos mais problemáticos identificados na auditoria que realizou à Caixa Geral de Depósitos (CGD).
Quando questionada pela deputada do CDS-PP Cecília Meireles, na comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público, sobre em quantos casos dos 25 mais problemáticos não foi disponibilizada a informação à auditora, Florbela Lima, 'partner' da EY, respondeu "três".
"Para além daqueles que já identificou, em que existem documentos mas que estão no Ministério Público...", relembrou Cecília Meireles, ao que a responsável da EY acrescentou: "Com esses, são quatro".
Estes quarto créditos problemáticos fazem parte de um total de 60 cuja informação não foi disponibilizada à EY.
"Alguma informação tem que haver para se saber que existem devedores. O que pergunto é se há contratos assinados ou não há contratos assinados?", questionou a deputada do CDS-PP.
"Relativamente a contratos, pareceres, despachos, no fundo a informação mínima crítica considerada por nós relevante para fazer a análise (...), ela não nos foi disponibilizada", referiu Florbela Lima.
Cecília Meireles apelou a Florbela Lima para que percebesse a "estranheza", uma vez que sem contratos, "no limite, esta pessoa pode nem ser devedora. Se a Caixa não tem nenhuma prova de que a pessoa recebeu aquele dinheiro", que "aparece como tendo saído da Caixa mas não há nenhum suporte jurídico dele ter saído ou daquela pessoa ser devedora".
"Eu não estou a dizer que não existe contrato, estou a dizer que o contrato não nos foi disponibilizado", ressalvou a responsável da auditora EY.
Florbela Lima referiu ainda que a documentação trazida da Caixa foi a "original, à data", e que "a informação não estava lá", perante uma pergunta da deputada centrista sobre se o banco público não mantinha a informação noutro suporte.
"Independentemente de o Ministério Público precisar desta informação, eu presumo que a Caixa continue a tentar recuperar os créditos. Como é que o pode fazer sem suporte documental?", ressalvou Cecília Meireles.
"Essa informação não estava disponível na Caixa Geral de Depósitos e não nos foi disponibilizada", insistiu a 'partner' da EY, incluindo, "em particular", a que estava no Ministério Público.
Para Cecília Meireles, "o facto de [o contrato] não ter sido disponibilizado é um indício bastante forte de que ele não existe".