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Dois anos depois dos incêndios que provocaram dezenas de mortos em Pedrógão Grande “está tudo por fazer”, afirmou esta segunda-feira a presidente da Associação de Vítimas, Nádia Piazza.
No dia em que Portugal recorda a tragédia de 2017, Nádia Piazza apela a comunidades e políticos que trabalhem em conjunto.
“Está tudo por fazer. Temos que trabalhar, temos que trabalhar todos: comunidade, Governo, a Assembleia da República tem que aprovar as leis que estão pendentes, deixar um bocadinho as politiquices e aprovar as leis que são precisas”, disse à margem da assinatura do protocolo para a construção do Memorial às Vítimas dos Incêndios de Pedrógão Grande (AVIPG), que decorreu na Câmara de Castanheira de Pera.
“Acreditem, quem anda por aqui já viu: isto é um barril de pólvora autêntico”, alerta a presidente da Associação de Vítimas de Pedrógão Grande.
No seu discurso durante a assinatura do protocolo, Nádia Piazza disse que aqueles que não lembram o passado estão condenados a repeti-lo, a propósito da tragédia de 17 de junho de 2017.
"Hoje é o dia que assinalamos um verdadeiro holocausto em Portugal, pela destruição de vidas e bens", frisou.
Perante uma plateia onde estava o primeiro-ministro, a presidente da AVIPG salientou que "todos precisam de seguir em frente, mas não se segue em frente sem antes enfrentar o passado", mostrando-se apreensiva sobre o que "foi feito e falta fazer".
"Mas hoje tenho esperança de que este dia nunca será esquecido para que não volte a acontecer, porque em 2017 vivemos um holocausto", sublinhou.
Na sessão realizada no município de Castanheira de Pera, a dirigente associativa, que perdeu um filho no incêndio, salientou que o memorial da autoria do arquiteto Eduardo Souto Moura "não será uma pedra tumular, mas um espaço de lembrança coletiva e a página que falta virar, e, para muitos, um local de reflexão".
O memorial, que ainda não tem data prevista para ser construído, será constituído por uma balsa de água ligado a uma fonte, que simboliza a vida e o nascimento.
Para Nádia Piazza, "o memorial será isso mesmo: mergulhar sem afogar, e embrenhar-se num estado de profundo reflexão e respeito, que faz lembrar que [as vítimas] eram pessoas amadas".
Segundo afirmou, o objetivo é "aliviar os traumas dos que por lá passam e tornar-se num local de convívio sentido da comunidade e de todos aqueles que também não se querem esquecer e lá depositem o seu respeito".
"Que sirva de cura até que um dia reste apenas a saudade purificada pelas suas águas, lavada do ódio, da revolta, da indignação e do sofrimento", sublinhou.
Responsável pelo projeto, a pedido da AVIPG, Souto Moura salientou que fez um "desenho simples, que não seja pretensioso", de uma balsa de água alimentada por uma fonte.
"A água como purificação é um elemento transversal em todas as culturas e religiões", referiu o arquiteto, salientando que a balsa de água desenhada tem a "dupla função de evocar o renascimento, que pensamos que vai acontecer e, se houver outro incêndio, os bombeiros têm onde ir buscar água".