As urgências de Psiquiatria caíram para metade durante o estado de emergência decretado por causa da COVID-19, de acordo com dados avançados, esta quinta-feira, por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) e do CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, num estudo já aceite para publicação na revista científica Psychiatric Quarterly.
O número agora conhecidos vêm confirmar as preocupações com os efeitos da pandemia sobre a saúde mental dos portugueses.
A equipa analisou as idas à Urgência Metropolitana de Psiquiatria do Porto, que abrange cerca de três milhões de habitantes, durante o período do estado de emergência, descrevendo o seu impacto nos números e as caraterísticas dos episódios de urgência.
No total, foram registados 780 episódios, entre 19 de março e 2 de maio de 2020. ENo período homólogo do ano anterior, registaram-se 1633 episódios. Percentualmente, houve uma diminuição de 52% no total de episódios. Esta redução nas urgências psiquiátricas é mais acentuada entre os mais jovens e as mulheres, embora estas últimas contabilizem a maioria dos episódios.
Os doentes com Perturbações do Humor, como a depressão, por exemplo, apresentam a queda mais significativa, com uma redução de episódios de urgência de cerca de 68%. Já nos doentes com diagnóstico de esquizofrenia ou de outras perturbações psicóticas, a descida foi de apenas 9%, o que os autores justificam com a maior gravidade dos quadros clínicos e a maior necessidade de cuidados médicos.
Entre as razões apontadas para esta diminuição inclui-se a preocupação de não sobrecarregar os serviços de saúde, numa altura em que o foco era travar a pandemia, bem como as limitações impostas pelo confinamento e o medo de ser infetado pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
“A COVID-19 teve um importante impacto no número e nas características das idas às urgências psiquiátricas. As entidades competentes devem olhar para a Saúde Mental como uma verdadeira prioridade e reforçar o investimento público nos hospitais e nos cuidados comunitários e continuados. É necessário repensar o nosso modelo de urgência e de acesso aos cuidados de Saúde Mental”, afirma Manuel Gonçalves-Pinho, um dos autores do estudo, em copmunicado.
Segundo Pedro Mota, do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, também envolvido neste estudo, “as diminuições nas idas à urgência ocorreram principalmente entre os doentes com situações clínicas consideradas não urgentes. Porém, o impacto nefasto da COVID-19 na saúde mental dos portugueses é já bem notório, não só consequência direta da própria doença, mas também fruto das reformulações sociais e económicas que temos vindo a enfrentar.”
Os investigadores identificam sobretudo os idosos, os doentes com incapacidade intelectual e as pessoas em situação de desemprego como grupos em situação de maior vulnerabilidade e alertam que a interrupção de certos tratamentos em consequência do encerramento de alguns serviços pode provocar maior destabilização em certos grupos de doentes.
Inserido no projeto 1st.IndiQare, este trabalho contou ainda com a participação de João Pedro Ribeiro e Silvério Macedo (Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa) e de Alberto Freitas (FMUP). O 1st.IndiQare tem financiamento do FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional, através do COMPETE 2020 e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).