“Sentimos necessidade de inventariar este património, que, além da dimensão científica, tem uma dimensão histórica e artística, mas também muito turística, pois poderemos definir percursos de relógios de sol na cidade ou até na própria região” – é assim que a professora Elfrida Ralha, do Departamento de Matemática da ECUM, justifica o trabalho de inventariação que está a ser realizado na região.
O trabalho inédito, está a ser coordenado por professores da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM), e alguns cidadãos, decorre há um ano e já permitiu a catalogação de 150 relógios de edifícios públicos e privados, como a Sé de Braga e o Mosteiro de Tibães.
Três dezenas destes instrumentos científicos, considerados objetos de arte, podem agora ser apreciados na exposição “Relógios de Sol”, no Museu dos Biscainhos, em Braga.
De acordo com a professora Elfrida Ralha, “um relógio de sol é o único que nos diz a hora exata, pois o que temos no pulso tem uma hora média, fixada pelos meridianos. O meio-dia em Braga não é o meio-dia de Lisboa ou de Faro, porque o sol movimenta-se”.
A docente relembra que estes objetos eram muito utilizados pelos antepassados, por exemplo, para identificar as épocas de plantio e colheitas.
“Serviam para as pessoas saberem se estava na hora de mudarem os cursos da água para os campos dos vizinhos, de irem almoçar, rezar ou voltar para o trabalho. E podiam ser crianças de 5 anos que iam ler as horas nestes relógios”, sintetiza.
Falta catalogação nacional
Em Portugal, há trabalhos recentes sobre os relógios de sol, mas ainda não existe uma base de dados nacional com a sua catalogação. Em muitos destes objetos encontram-se divisas (frases), muitas delas em latim, de natureza religiosa/filosófica (apelam ao nascimento e à morte no contexto do nascer e pôr do sol), política ou pedagógica (tornaram-se provérbios).
A exposição inclui peças dos concelhos de Braga, Amares, Barcelos, Celorico de Basto, Fafe, Guimarães, Póvoa de Lanhoso, Terras de Bouro e Vila Verde.
Produzida pela ECUM, com curadoria de João Cabeleira e Elfrida Ralha, tem a parceria de Centro de Matemática da UMinho, do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT), da Fundação para a Ciência e Tecnologia, da Rede Casas do Conhecimento, do Município de Braga, do Planetário - Casa da Ciência de Braga, do Museu dos Biscainhos e da Direção-Regional de Cultura Norte.
A exposição pode ser vista até 8 de janeiro e a entrada é gratuita. A ECUM tem ainda prevista a construção de um relógio de sol na cidade, em parceria com o Município de Braga.