“A questão não é se, mas quando” virá a próxima pandemia ou desafio sanitário. Baseados nesta premissa, os líderes de 23 países, em conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) defendem a criação de um tratado internacional que ajude o mundo a lidar com futuras emergências de saúde.
“Acreditamos que as nações terão de trabalhar juntas, no sentido de conceber um novo tratado internacional de preparação e resposta às pandemias”, afirmam chefes de Governo como Emmanuel Macron (França), Angela Merkel (Alemanha), António Costa (Portugal), mas também os Presidentes do Chile, Sebastián Piñera, e da Costa Rica, Carlos Alvarado Quesada, num artigo publicado nesta terça-feira em vários jornais (em Portugal, no “Público”).
Comparando com o que se passou no final da Segunda Guerra Mundial, em que se uniram vontades e esforços para alcançar “o que apenas poderia ser conseguido em conjunto” – “nomeadamente de paz, prosperidade, saúde e segurança – os líderes mundiais vêm agora defender “uma arquitetura internacional da saúde mais robusta”, que possa proteger as futuras gerações.
“Teremos outras pandemias e outras grandes emergências sanitárias. Essas ameaças não poderão ser combatidas isoladamente por um único governo ou agência multilateral. A questão não é se, mas quando. Juntos, ficaremos mais bem preparados para prever, prevenir, detetar, avaliar e dar uma resposta eficaz às pandemias de forma altamente coordenada”, defendem.
“A pandemia de Covid-19 tem-nos relembrado de forma dura e dolorosa que ninguém está seguro, até que todos estejamos seguros”, sublinham ainda.
Os grandes objetivos de tal tratado internacional seriam “melhorar, por exemplo, os sistemas de alerta, a partilha de dados, a investigação e a produção local, regional e mundial, assim como a distribuição de contramedidas médicas e de saúde pública, como vacinas, medicamentos, meios de diagnóstico e equipamento de proteção individual” – tudo sob o chapéu da “abordagem ‘Uma só saúde’, que estabelece a ligação entre a saúde dos seres humanos, dos animais e do nosso planeta”.
“Esse tratado deveria conduzir a uma maior responsabilização mútua e a uma responsabilidade, transparência e cooperação partilhadas no seio do sistema internacional”, defendem ainda os 23 líderes mundiais, que se dizem “empenhados em garantir o acesso universal e equitativo a vacinas, medicamentos e diagnósticos seguros, eficazes e acessíveis para esta e futuras pandemias”.
Para atingir estes fins, os signatários do artigo consideram que “será preciso tempo” e “um compromisso político, financeiro e social sustentado ao longo de muitos anos”.
A atual pandemia “aproveitou as nossas fraquezas e divisões”, mas a oportunidade deve ser “agarrada e unirmo-nos como comunidade mundial. A nossa solidariedade para garantir que o mundo ficará mais bem preparado será o nosso legado para proteger os nossos filhos e netos e minimizar o impacto de futuras pandemias sobre as nossas comunidades e sociedades”, escrevem.
“Para fazer deste compromisso uma realidade, teremos de ser guiados por princípios de solidariedade, justiça, transparência, inclusão e equidade”, concluem os líderes mundiais de 23 países (Fiji, Portugal, Roménia, Grã-Bretanha, Ruanda, Quénia, França, Alemanha, Grécia, Coreia do Sul, Chile, Costa Rica, Albânia, África do Sul, Trinidad e Tobago, Holanda, Tunísia, Senegal, Espanha, Noruega, Sérvia, Indonésia, Ucrânia) e da OMS.
Numa conferência de imprensa, nesta terça-feira de manhã, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, reforçaram os objetivos e a mensagem.
“O tempo de agir é agora. O mundo não se pode permitir esperar até que a pandemia termine para começar a preparar-se para a próxima. Não deveríamos permitir que as memórias desta crise desaparecerem e voltarmos à vida do costume”, afirmou o líder da Organização Mundial de Saúde.
[Notícia atualizada às 11h00, com declarações na conerência de imprensa]