O escritor português Manuel Alegre é o vencedor do Prémio Camões 2017, foi anunciado esta quinta-feira na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, após reunião do júri.
Contactado pela Renascença, Manuel Alegre reagiu com naturalidade e disse até que o prémio poderia ter chegado mais cedo.
"Não posso dizer que tenha sido apanhado de surpresa, porque é natural que com a idade que tenho, com os livros que escrevi e com os prémios que já recebi aqui em Portugal é natural que... Até podia ter sido há mais tempo, digo-lhe com toda a franqueza. Foi agora, sinto-me muito honrado com isso."
"Em língua portuguesa era um prémio que faltava. Ganhei o prémio pessoa, um prémio muito ilustre, ganhei outros. Mas o Prémio Camões é um prémo que muita gente achava que faltava. Olha, chegou agora", disse Manuel Alegre.
Marcelo Rebelo de Sousa também não perdeu tempo a comentar aquilo que considera ter sido uma "homenagem justíssima a uma grande figura da literatura portuguesa".
"Nos termos do próprio prémio, (Manuel Alegre) contribuiu e contribui para o enriquecimento literário e cultural, não apenas português, mas do mundo da lusofonia", acentuou.
Marcelo Rebelo de Sousa falava antes de um jantar de gala dos 60 anos da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e afins de Portugal (AIMMAP) no Porto de Leixões, em Matosinhos, no âmbito do programa das comemorações do 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.
Este prémio é o reconhecimento a uma obra "longa, exaustiva e rica" de Manuel Alegre como ensaísta, mas sobretudo como um "grande poeta" que marcou várias fases da vida nacional e que projectou de forma "inexcedível" a língua portuguesa.
Questionado sobre o facto de o anúncio do vencedor coincidir com o 10 de Junho, o chefe de Estado disse que essa coincidência torna o prémio "ainda mais gratificante".
"Tem outro significado falar no Prémio Camões e associá-lo ao Dia de Camões, ao Dia de Portugal e ao Dia das Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo fora", afirmou.
Também o ministro da Cultura afirma, num comunicado hoje divulgado, que "a poesia de Manuel Alegre ganhou, com o tempo, uma consistência e uma dimensão que pôs em evidência a grande qualidade da sua expressão poética".
"A poesia de Manuel Alegre ganhou, com o tempo, uma consistência e uma dimensão que pôs em evidência a grande qualidade da sua expressão poética, para além da voz de combate pela liberdade e pela justiça que esta poesia foi para nós, nos anos sombrios da ditadura", afirma Luís Filipe de Castro Mendes.
O ministro da Cultura traça o percurso poético de Manuel Alegre, que "saúda e felicita calorosamente".
No comunicado divulgado pelo Governo português lê-se que “como poeta, começou a destacar-se nas colectâneas ‘Poemas Livres’ (1963-1965). Mas o grande reconhecimento nasce com os seus dois volumes de poemas, ‘Praça da Canção’ (1965) e ‘O Canto e as Armas’ (1967), apreendidos pelas autoridades antes do 25 de Abril, mas com grande circulação nos meios intelectuais”.
Esta é a 29.ª edição do Prémio Camões e o júri foi constituído por Paula Morão, professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Maria João Reynaud, professora associada jubilada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Leyla Perrone-Moisés, professora emérita da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, José Luís Jobim, professor aposentado da Universidade Federal Fluminense e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Lourenço do Rosário, reitor da Universidade Politécnica de Maputo e pelo poeta cabo-verdiano José Luís Tavares
O Prémio Camões é o mais importante prémio literário destinado a autores de língua portuguesa.
Entre outros galardões, Manuel Alegre já tinha sido premiado, juntamente com o fotógrafo José Manuel Rodrigues, com o Prémio Pessoa 1999.
O vencededor da edição de 2017 nasceu em Águeda em 1936 e estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde participou nas lutas académicas, tendo aliado a actividade política à literária.
“Devo tudo aos meus leitores. É, sobretudo, uma vitória deles. Porque foram os leitores que, ao longo da minha vida literária, estiveram sempre perto de mim e me ajudaram a vencer várias censuras (política e estética). Expresso-lhes a minha gratidão”, disse em entrevista ao “Diário de Notícias”.
[Notícia actualizada às 21h31]