O cenário mais previsível após as eleições de domingo é que o bloco da direita tenha maioria, consideram politólogos ouvidos pela Lusa, embora notando a incerteza sobre necessidade de acordo com o Chega e admitndo que "pode haver surpresas".
"O mais previsível é que o bloco da direita tenha maioria, temos de ver depois o equilíbrio interno entre os vários partidos da direita, ou seja, se eventualmente a AD com a Iniciativa Liberal consegue uma maioria, sem o Chega ser parte da solução de Governo, ou se, tendo uma maioria relativa, é necessário o Chega para ter maioria absoluta", diz à Lusa Marco Lisi, professor e investigador de Ciência Política no Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa.
Com base nas sondagens mais recentes, o investigador aponta estes dois cenários como os mais previsíveis, embora distintos em termos de estabilidade governativa.
"No primeiro caso [AD e IL com maioria absoluta], pode haver condições para um Governo com maior estabilidade, no segundo caso [AD e IL com maioria relativa] é mais complicado, sendo que o líder da AD já disse que não ia fazer nenhuma coligação de Governo com a inclusão do Chega e uma situação de viabilidade de um Governo de direita será sempre muito provisória", considera Marco Lisi.
O investigador alerta, porém, que "pode haver surpresas", como uma maioria de direita mas com o PS a alcançar uma votação superior à da AD, ainda que seja pouco provável, tendo em conta as últimas sondagens.
"Há ainda muitos indecisos e o equilíbrio ainda pode alterar-se nos últimos dias de campanha", adverte.
Neste caso, explica, prevê-se que o PS tente formar um Governo e que a AD, "provavelmente", substitua Luís Montenegro na liderança, criando uma incógnita sobre o sucessor e qual a estratégia que vai seguir.
Num cenário destes, Marco Lisi considera que o PSD ficará numa posição "muito difícil", arriscando-se a ser "esmagado" pelo Chega, que passaria a ser "o verdadeiro partido da oposição", caso os sociais-democratas façam um acordo com o PS.
Por outro lado, aponta, se o PSD fizer um acordo com o Chega, será "constantemente chantageado", podendo André Ventura usar o "trunfo" de ser a peça-chave para a viabilidade do Governo.
O professor da Nova considera ainda outra hipótese, embora mais difícil, de uma maioria de esquerda, com a reedição da chamada "Geringonça", como ficou conhecido o acordo de 2015 que permitiu ao PS governar quatro anos com o apoio parlamentar dos partidos à sua esquerda, o BE, PCP e PEV. .
Já o professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa e investigador de Ciência Política Adelino Maltez considera que no dia a seguir às eleições se vai assistir "àquilo que grande parte das democracias da Europa têm: governos da barganha".
Adelino Maltez o cenário mais provável está alinhado com a "tradição nos últimos 50 anos de democracia": "é um partido dito social-democrata e um partido dito socialista-democrático constituírem a grossa maioria do parlamento". "Se houver qualquer instabilidade, a culpa é destes dois partidos que se conhecem muito bem um ou outro e que podem ter soluções que não necessariamente acordo entre eles", argumenta.
Este professor universitário sublinha que existe uma lógica de estabilidade entre PS e PSD, que "estão sempre de acordo no essencial" e que isso "é o grande fator de estabilidade da democracia portuguesa".
Quanto à eventual necessidade de acordo com o Chega para viabilizar um Governo de direita, o investigador considera possível que não venha a ser preciso, mas, se for, a AD "tem uma solução muito simples": "ou admite pagar ao PS a estabilidade, ou entra numa solução que também é democrática e em vários países da Europa isso acontece, [que é] partidos como o Chega entrarem no arco da governação".
Mais de 10,8 milhões de portugueses são chamados a votar no domingo para eleger 230 deputados à Assembleia da República.
A estas eleições concorrem 18 forças políticas, 15 partidos e três coligações.