“A vida é um valor que deve ser respeitado”, afirma o cardeal Mário Grech, numa altura em que o Parlamento português voltou a aprovar a lei da eutanásia.
Em entrevista à Renascença, o secretário-geral do Sínodo dos Bispos defende que “quando uma pessoa chega a uma situação deste género, significa que precisa ainda mais de atenção e de mais amor”.
De visita à Arquidiocese de Braga, o cardeal maltês assegura, por outro lado, que a questão dos abusos na Igreja não está a prejudicar o processo sinodal. De acordo com o cardeal Grech, “os abusos também são tema considerado neste processo sinodal”.
O secretário-geral do Sínodo garante que foi o “empenho e a participação” que levou o Papa Francisco a estender prazos, porque “precisamos de mais tempo para poder refletir e estudar os temas enviados pelo povo de Deus”.
Por outro lado, o cardeal Grech considera “positivo” o aparecimento de reações de protesto por parte daqueles que em Portugal não se viram representados notexto final produzido pela Conferência Episcopal Portuguesa. “Eu preocupo-me é quando ninguém presta atenção ao que dizem os bispos. Isto significa que os bispos estão a cumprir o seu ministério”, afirma.
O facto de o Papa adiar a data da realização da assembleia sinodal significa que o processo não está a correr como inicialmente previam?
Pelo contrário, o processo revelou tanto empenho e participação tão maciça, que precisámos de mais tempo para poder também refletir e estudar os temas enviados pelo povo de Deus. Porque não podemos esperar que, em três semanas, com assuntos e questões tão importantes, inclusive teologicamente, tenham uma resposta em tão breve tempo.
Em Portugal, o relatório conclusivo apresentado pela Conferência Episcopal gerou reações de protesto, porque muitos fiéis que responderam às perguntas não se viram representados no texto final. Como comenta?
Antes demais, o facto de ter havido reações é positivo. Isso significa que é irrelevante o que a Conferência Episcopal Portuguesa está a fazer? Não. Eu preocupo-me é quando ninguém presta atenção ao que dizem os bispos.
Isto significa que os bispos estão a cumprir o seu ministério. Criaram também esta tensão e a tensão é positiva, porque pode gerar um ulterior diálogo e aprofundamento.
O que tem a dizer aos que não se reveem nos relatórios enviados?
Compreendo, porque é um documento com 40 páginas que resulta de um esforço de síntese de cerca de 2.000 páginas. Mas fizemo-lo num contexto de oração e de discernimento, e escolhemos as coisas com maior destaque nas sínteses enviadas. O Sínodo não terminou, está ainda em curso e o meu desejo é que aprendamos a continuar, numa posição de escuta e de diálogo com todos. E o que não foi recebido ontem, pode ainda ser recebido hoje ou amanhã.
O Papa Francisco insiste que a Igreja não deve estar centrada sobre si mesma. Qual é, então, o objetivo num Sínodo deste tipo?
Peço desculpa, mas é uma leitura errada pensar que este Sínodo é um momento para a Igreja fazer uma reflexão autorreferencial. Não. Esta é uma reflexão a favor de uma Igreja missionária, para sair de si mesma e poder comunicar com a novidade de hoje e oferecer também o Evangelho num contexto que está a mudar. Ou seja, esta é, de facto, uma Igreja em saída.
Em que medida o processo sinodal está a ser prejudicado pela polémica relativa aos abusos?
Não. Aliás, os abusos também são um tema considerado neste processo sinodal.
Está em Portugal num momento em que o país viu aprovada pelo Parlamento uma lei que permite a eutanásia. Ainda falta, contudo, a decisão do Presidente da República. Merece-lhe algum comentário?
Não estou ao corrente, não me sinto em posição de fazer comentários sobre a atividade da nação, sobre a qual não estou informado. Mas, para mim, a vida é um valor que deve ser respeitado. E, quando uma pessoa chega a uma situação deste género, significa que precisa ainda mais de atenção e de mais amor.