O embaixador norte-americano em Lisboa concedeu uma entrevista à Renascença, à margem do seminário “Portugal, NATO e o Novo Arco de Crises”, na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento. Robert Sherman acredita que a união entre países defensores da democracia é a arma principal na luta contra o auto denominado Estado Islâmico.
Pensa que os atentados de Paris vão mudar o ambiente estratégico?
Penso que sim. Estes ataques de Paris trazem para junto de nós a natureza próxima da ameaça do terrorismo. De alguma forma a ameaça parece remota, como parecia nos Estados Unidos até ao 11 de Setembro de 2001. Penso que agora vemos uma nova fase da guerra do ISIS (auto-proclamado Estado Islâmico) não para contenção geográfica, mas chegando a outras partes do mundo para levar terror a outras zonas da Europa e potencialmente a outras áreas do mundo.
Os Estados Unidos afirmam a importância da contribuição de outros países no esforço de guerra. Hollande invocou um artigo de defesa colectiva do Tratado de Lisboa e não o artigo V da NATO. Como é que comenta isso?
Vamos ver como isto se desenrola quer na NATO quer na UE. Do ponto de vista americano, o mais importante é que o ISIS representa um perigo claro e imediato para países democráticos, não apenas na Europa mas em todo o mundo. A única forma de erradicar e parar o ISIS é uma coligação alargada feita por países em todo o mundo com o interesse de preservar os tipos de liberdades que nós amamos e contrariar este tipo de actos hediondos que vimos na última sexta-feira em Paris.
Há uma solução militar?
Há uma solução militar para parar o ISIS. Também tem que haver uma solução política no terreno para criar o tipo de infra-estruturas em países como a Síria e o Iraque, com instituições que previnam o enraizamento de organizações terroristas.
Há críticas de falta de encaminhamento de informação para parceiros? Sente que há espaço para mais partilha de informação entre os EUA e os seus parceiros europeus?
Não vou certamente comentar o que acontece actualmente na partilha de informações. O que posso dizer é que quando falamos no tipo de coligações necessárias, tem que haver um tipo de interoperabilidade para comunicarem entre si. Um dos aspectos importantes disso é um entendimento comum sobre o tipo de ameaças, de onde podem vir, ligar os diferentes nós, que é a única forma efectiva de erradicar este tipo de organizações.
Vimos Obama a falar com Putin. Debate-se o que Rússia representa para o Ocidente no plano do ambiente estratégico. No combate ao ISIS, os russos foram também vítimas com o abate de um avião. Pensa que pode mudar a relação e o diálogo entre Rússia e os Estados Unidos?
O que vemos no mundo não é tanto uma questão de amigos a falar com amigos mas países com interesses comuns a actuar como aliados para lidar com ameaças contra esses interesses comuns. O mundo está constantemente a mudar. Os acontecimentos tornam isso abundantemente claro. O interesse dos países muda constantemente. Como sublinhou, a Rússia é agora vítima de uma séria acção terrorista com o abate de um avião. Esperemos que o envolvimento russo na Síria seja menos focado no apoio ao seu ‘governo-cliente’ na forma do Presidente Assad, e que se foque verdadeiramente na erradicação do ISIS na Síria. Se esse for o caso, vejo claramente uma parceria entre os dois países directamente contra esse objectivo comum.
Noutro âmbito, Robert Sherman está preocupado com as alianças políticas do PS à esquerda. E quer ver acções que mostrem de que lado está o novo Governo em matéria de compromissos internacionais, especialmente com a NATO.