O investigador na Nova School of Business and Economics (SBE) e especialista em Economia da Educação, Pedro Freitas, considera que o novo modelo de acesso ao ensino superior pode melhorar a avaliação, mas ressalva que isso não acontecerá com o fim dos exames finais no ensino secundário.
Pedro Freitas, que admite ser “bastante contra” o fim dos exames finais, garante que a medida não vai eliminar distorções, “porque as notas internas dos professores também refletem as desigualdades sociais”, que “continuam lá e vão continuar a existir”.
O investigador dá como exemplo “as raparigas”, que “hoje em dia têm muito melhores notas internas do que os rapazes, porque estamos a internalizar outros fatores, como o comportamento em sala de aula, dimensões não cognitivas, que criam um fosso de género entre rapazes e raparigas”, explica.
Por outro lado, estes exames representam um instrumento de avaliação comparativa importante para o país, sem eles “o ministro da Educação e a Inspeção Geral da Educação perdem uma ferramenta essencial para perceber se há escolas que estão a inflacionar as notas dos alunos para lhes facilitar o acesso ao ensino superior”, diz o investigador.
Outro argumento contra o fim dos exames é a informação que se perde: “nós estendermos a escolaridades obrigatória até aos 18 anos e depois não termos um instrumento claro que nos diga qual é a situação dos alunos à saída do 12º ano é uma perda de informação grave que nos deixa cegos acerca da evolução do sistema”, defende.
Ainda assim, Pedro Freitas, professor e investigador na Nova School of Business and Economics, admite que “não há métodos de avaliação perfeitos, são melhores quando complementamos várias formas de avaliar”, como notas internas e externas.
É ainda possível melhorar com mais “comparabilidade” entre exames, aumentando a previsibilidade através da repetição de perguntas ou tipo de perguntas, o que iria também reduzir o stress dos alunos.
Nos últimos dias, foi noticiado que os ministérios da Educação e da Ciência e Ensino Superior não se entendem, sobre o modelo adotar. Para esta segunda-feira, está marcada uma conferência de imprensa dos dois ministérios.
De acordo com a imprensa, o ministro da Educação quer acabar com os exames nacionais no 12.º ano. Em linha com o programa do governo, João Costa quer distinguir a conclusão do ensino obrigatório das provas de acesso ao ensino superior. Já a ministra do Ensino Superior, Elvira Fortunato, quer manter e até reforçar o peso dos exames nacionais.
Um dos argumentos pela eliminação dos exames é o combate às desigualdades que criam. No entanto, são vários os especialistas e académicos que criticam esta posição.
O primeiro-ministro pode ser obrigado a resolver este braço de ferro, entre o Ministério da Educação e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.