No dia em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu em Nova Iorque para debater cenários possíveis de intervenção externa na Síria, a Renascença falou com um alto funcionário da ONU, que pediu para não ser identificado, sobre as suas expectativas de uma acção por parte dos poderes ocidentais e a realidade vivida pelos milhões de pessoas afectadas pelo conflito.
"Apesar destes dois anos de combates intensos, é espantoso ver que os mecanismos das pessoas para lidar com isto não esgotaram. É um tributo à indomabilidade do espírito humano que ainda haja pessoas na Síria que sintam que existe um futuro pelo qual vale a pena trabalhar", considera. "Eles têm tido que usar as suas reservas mais profundas, tanto a nível emocional, espiritual, como certamente a nível financeiro.”
Em entrevista à Renascença a partir de um país vizinho da Síria, o analista das Nações Unidas considera que a hipótese iminente de uma acção externa na Síria é "um passo muito severo, tanto para os poderes que vão estar a intervir directamente, como para os países vizinhos e, principalmente, para o povo sírio".
Este alto funcionário da ONU espera que as más experiências do passado estejam na cabeça de quem decide. "O Ocidente já interveio de muitas formas diferentes no Médio Oriente e algumas intervenções foram claramente mais bem-sucedidas que outras", refere.
"A experiência da Síria trouxe ao de cima muitas possibilidades diferentes de acção. Espero que as lições das más intervenções, aquelas que causaram um sofrimento humano e humanitário indescritível, tenham ficado bem aprendidas."
Nas Nações Unidas discute-se uma proposta do primeiro-ministro britânico, David Cameron, que pede autorização para tomar "as medidas necessárias para defender os civis".
"Gostava de ter a esperança de que as pessoas que estão sentadas à volta da mesa em Nova Iorque estejam muito conscientes das consequências no terreno de eles levantarem as mãos na afirmação de uma qualquer acção por parte do Conselho de Segurança", conclui o representante da ONU no Médio Oriente.
A guerra civil na Síria, que dura há dois anos, já terá feito mais de 100 mil mortos.