O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, aliado de Moscovo, disse nesta quinta-feira que o seu país está disponível para receber "armas nucleares" caso haja uma ameaça do Ocidente no âmbito da crise na Ucrânia.
"Se for necessário (...) vamos colocar não apenas armas nucleares, mas também armas super nucleares para defender o nosso território", afirmou Lukashenko, citado pela imprensa bielorrussa.
A medida poderá ser acionada se forem tomadas "medidas idiotas" por "rivais e adversários" da Bielorrússia, aliada da Rússia na crise com o Ocidente devido à Ucrânia, disse Lukashenko.
"Se não houver ameaças de países hostis à Bielorrússia, não haverá necessidade de ter armas nucleares aqui durante os próximos 100 anos", acrescentou.
“Zona livre de armas nucleares” vai a referendo
Após a dissolução da União Soviética, em 1991, a Bielorrússia, como outras ex-repúblicas soviéticas, renunciou a ter armas nucleares no seu território por pressão norte-americana e concordou em devolvê-las à Rússia.
A Constituição da Bielorrússia de então previa que o país permanecesse uma "zona livre de armas nucleares", mas este artigo foi substituído na nova versão da lei fundamental proposta por Lukashenko e sobre a qual os bielorrussos irão votar num referendo agendado para 27 de fevereiro.
O novo artigo mantém a ausência de armas nucleares do país "excluindo em caso de agressão militar ao território" da Bielorrússia.
Os Estados Unidos ficaram alarmados com essa alteração da Constituição, que pode permitir a instalação de armas nucleares russas na Bielorrússia, país que faz fronteira com a Ucrânia e com a Polónia.
A Rússia mobilizou milhares de soldados para junto da fronteira ucraniana desde o final de 2021, aumentando os receios de uma potencial invasão e provocando a pior crise com os ocidentais desde a Guerra Fria.
Lukashenko reúne-se amanhã com Putin
Extensas manobras militares russo-bielorrussas também estão em curso na Bielorrússia.
Alexander Lukashenko é esperado na Rússia na sexta-feira para conversar com o seu homólogo e aliado, Vladimir Putin.
Lukashenko adiantou nesta quinta-feira que, nessa reunião, os dois chefes de Estado irão decidir se vão retirar os soldados russos que estão em exercícios militares na Bielorrússia, incluindo na fronteira com a Ucrânia.
"O que decidirmos amanhã [sexta-feira], acontecerá", afirmou Lukashenko durante uma inspeção às manobras "Allied Determination-2022" (Determinação Aliada), no campo de treino de Osipovichi, ao sul de Minsk, segundo a agência oficial bielorrussa Belta.
Os dois países estão a realizar estes exercícios militares desde o dia 10 e o plano é continuar até domingo.
O Presidente bielorrusso garantiu que "assim que a decisão for tomada, os militares se retirarão num período de 24 horas".
"Se tomarmos a decisão de que [a retirada só será feita daqui] a um mês, eles [os soldados] estarão lá durante um mês. As Forças Armadas estarão lá o tempo que for necessário. Esta é a nossa terra, o nosso território", afirmou.
Alexander Lukashenko adiantou ainda que não há necessidade de criar bases militares russas na Bielorrússia, mas que vai pedir à Rússia que crie um centro de treino para o desenvolvimento de mísseis russos Iskander de curto alcance.
Tanto Moscovo como Minsk garantiram que as tropas seriam retiradas para os seus quartéis de origem assim que os exercícios terminassem.
Uma vez que os exercícios conjuntos com a Rússia estejam concluídos, no domingo, "nenhum soldado ou equipamento militar" permanecerá em território bielorrusso", afirmou, na quarta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia, Vladimir Makei.
Na sua opinião, os dois países estão a realizar os exercícios conjuntos porque a NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte) reforçou a sua presença perto das fronteiras dos dois países, e lembrou a chegada recente de reforços às vizinhas Polónia e Lituânia.
Por outro lado, defendeu ainda Lukashenko, as manobras militares em curso não violam nenhum acordo ou documento internacional.
Moscovo e Minsk recusaram dar explicações aos países-membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) que assinaram o chamado Documento de Viena, que visa promover a transparência na movimentação de militares, alegando que os exercícios não têm alcance suficiente para ser necessário fazer uma notificação.
Segundo o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, cerca de 30.000 soldados, caças, mísseis Iskander e sistemas de defesa aérea S-400 estão a ser usados nos exercícios, que classificou como "o maior" destacamento militar na Bielorrússia desde a Guerra Fria.