A AD venceu as eleições, mas sem a maioria que lhe permita governar sozinha. O PS já disse que vai ser oposição e o Chega consegue um resultado histórico. É este, em resumo, o cenário que sai das eleições deste domingo. O futuro político é bastante incerto.
Quais são os cenários em cima da mesa?
Há dois fatores a ter em conta para esta resposta. Um é a aritmética e há, desde logo, um dado objetivo: o Parlamento que sai destas eleições é maioritariamente de direita.
No entanto, com o 'Não é Não' de Luís Montenegro ao Chega, a soma da AD com a Iniciativa Liberal dá 87 deputados.
Mas a soma de toda a esquerda - PS, Bloco, CDU, Livre e PAN - dá 91 deputados.
Ou seja, André Ventura é - vamos usar esta imagem - um elefante à solta, numa sala cheia de peças de porcelana. E já prometeu usar os seus 48 deputados para pressionar Luís Montenegro.
O outro fator a ter em conta é a vontade dos líderes partidários: André Ventura disse que só um ato de irresponsabilidade poderá afastar uma solução, tendo em conta - e esse é outro dado objetivo desta noite eleitoral - que, para uma maioria absoluta, AD e Chega seriam suficientes.
Mas o quê que explica este resultado do Chega?
Aparentemente, a quebra da abstenção, ou seja, eleitores que, no passado, não foram às urnas e, desta vez compareceram em força, e aumentaram a expressão eleitoral do Chega.
E há um dado, eventualmente, curioso: os eleitores que, em 2022, deram a maioria absoluta ao PS, com receio do crescimento do Chega, poderão ter sido exatamente os mesmos a darem este resultado ao partido de André Ventura.
Só que Luís Montenegro insiste que não haverá entendimentos com o Chega. Perante esse cenário, o que podemos esperar?
Aí vai depender do Partido Socialista. Pedro Nuno Santos afasta a possibilidade de forçar uma solução à esquerda, tal como António Costa fez em 2015, ao criar a inédita geringonça.
O líder do PS disse até que não há qualquer tática política, no que pode ser interpretado como um remoque à estratégia seguida pelo seu antecessor.
Portanto, resulta claro da posição de Pedro Nuno Santos que os socialistas não irão inviabilizar a formação de um Governo da AD.
Só que, por outro lado, prometem ser uma forte oposição e, desse ponto de vista, não existe, nesta altura, qualquer compromisso do lado do PS de aprovação, por exemplo de um Orçamento do Estado, que será a primeira grande prova de fogo de Luís Montenegro enquanto primeiro-ministro.
E essa é uma certeza? Montenegro vai mesmo ser primeiro-ministro?
Tudo indica que sim. O passo seguinte será o convite do Presidente da República ao líder da AD para formar um Governo, é o que determina a tradição democrática.
E foi, também, o que aconteceu com Pedro Passos Coelho que, em 2015, venceu as eleições a António Costa. Na altura, o Presidente da República era Cavaco Silva, que convidou Passos Coelho a formar um Governo que, depois, acabou por ser inviabilizado pela maioria que se formou à esquerda, o que forçou Cavaco Silva a indigitar António Costa, com o apoio do Bloco de Esquerda e da CDU.
Solução que Pedro Nuno Santos já disse que não irá forçar desta vez, até porque iria esbarrar numa maioria absoluta de direita, porque aos 87 deputados da soma AD/Iniciativa Liberal, teríamos de juntar os 48 do Chega. O que daria 135 deputados a inviabilizar uma solução.
Mas ainda falta apurar os resultados dos círculos da emigração. São quatro mandatos por eleger. Podem fazer a diferença?
Dificilmente, porque, para o PS ultrapassar a AD, teria de alcançar três dos quatro mandatos por apurar.
A tradição de eleições passadas, normalmente, dá um empate entre os dois principais partidos.
Além disso, não é de excluir a possibilidade do Chega também poder ir buscar um deputado a esse conjunto de quatro mandatos por apurar. Mas isso só saberemos depois de dia 20, quando forem contados os votos da emigração.