​É possível fazer mais cirurgias no SNS, mas relatório ficou três anos numa gaveta
27-02-2019 - 00:19
 • Eunice Lourenço

Grupo de trabalho para propor novo modelo de gestão de blocos operatórios vai começar trabalho.

Em 2013 foi nomeado um grupo de trabalho para a avaliação da situação dos blocos operatórios. Esse grupo publicou em outubro de 2015 um relatório com o modo de funcionamento e a capacidade instalada em cada instituição do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Passados três anos e meio, vai começar a trabalhar um grupo de trabalho que pretende dar sequência ao que é possível concluir desse relatório: é possível fazer mais e melhores cirurgias no SNS.

“Todos nós temos a convicção de que se poderia, com a capacidade instalada, conseguir um rendimento superior, conseguir uma diminuição maior das lisitas de espera, conseguir que mais doentes sejam operados”, diz à Renascença o cirurgião Pedro Correia da Silva, cuja nomeação é publicada esta quarta-feira em Diário da República.

Pedro Correia da Silva vai coordenar um grupo com mais 13 especialistas que, durante quatro meses e de forma gratuita, vão elaborar uma proposta de modelo de funcionamento dos blocos operatórios, replicando os bons exemplos apontados no relatório publicado em outubro de 2015.

O documento, feito por um grupo coordenado pelo dr. Jorge Penedo, “é um manancial de informação extraordinário, mas não teve a sequência lógica que era utilizar essa informação para fazer uma proposta de melhoria da rentabilidade dos blocos operatórios”, diz Pedro Correia da Silva.

O coordenador estranha a demora: “Não tenho explicação. Que o relatório é magnifico é, e acho que muitas vezes - infelizmente vezes demais - há trabalho insano que é feito por comissões nomeadas pelos governos e que depois ficam a apodrecer nas gavetas e provavelmente isto não foi um fenómeno que se passasse pela primeira vez”.

Segundo Pedro Correia da Silva, há realidades completamente diferentes - hospitais em que os blocos fecham às 14h00, blocos que fecham às 20h00 – com resultados muito diferentes. Por isso, seria importante “replicar os exemplos de maior rentabilidade”, como são os hospitais de Santo António e de S. João, no Porto, ou o Hospital do Espírito Santo, em Évora.

Mas mesmos nesses, Pedro Correia da Silva acha que será possível, através de homogeneização de procedimentos, tirar ainda mais partido da capacidade instalada.

“Com certeza que se pode fazer mais”

O grupo agora criado tem especialistas com grande experiência em blocos operatórios que representam a realidade dos hospitais portugueses, tanto de grandes hospitais como de mais pequenos e o objetivo é propor uma nova metodologia de gestão dos blocos e a sua harmonização e homogeneização.

“Precisamos de melhor gestão hospitalar, de mais organização, de uma metodologia”, diz o cirurgião, que também está bem consciente que não será possível “transportar de forma rígida” modelos de hospitais gigantescos como o S. João para hospitais periféricos como o de Tâmega e Sousa. E avisa já que nalguns casos fazer mais e melhor também implica mais investimento, nomeadamente “aumentar os níveis médios de recursos humanos”. Ou seja, mais gente.

“Com certeza que se pode fazer mais. Se formos honestos reconhecemos que se pode fazer mais e melhor”, diz o médico, satisfeito com a resposta “gratificante e entusiástica” que teve de todos os médicos e enfermeiros que convidou para o grupo de trabalho e que querem ajudar a fazer mais e melhor no SNS.

“Em termos de qualidade dos gestos, do nível técnico dos equipamentos estamos equiparados aquilo que dispõem os hospitais de muitos outros países do mundo civilizado, no entanto muitas vezes não conseguirmos tirar, em termos de números, de rentabilidade, aquilo que outros conseguem”, diz Pedro Correia da Silva, que acredita que da parte do Governo e, nomeadamente, da parte da secretária de Estado da Saúde, “o grande entusiasmo é aumentar a rentabilidade” dos blocos operatórios.

Por isso, até desvaloriza a demora em dar sequência ao relatório de 2015: “o que interessa agora é que alguém reparou que havia um trabalho extraordinário que tinha sido feito ao qual não tinha sido dado a sequência lógica. Para Portugal é uma derrapagem pequena.”