A vigília para recordar o massacre de Tiananmen, em 1989, que reuniu milhares de pessoas nas ruas de Hong Kong terminou esta quinta-feira à noite com confrontos entre ativistas e a polícia, que deteve vários manifestantes.
Segundo a imprensa local, pelo menos quatro pessoas foram detidas no distrito financeiro de Mong Kok quando tentavam bloquear uma rua, tendo a polícia indicado que um dos seus agentes ficou ferido durante a detenção.
As autoridades locais tinham avisado os ativistas que as manifestações eram ilegais, devido às restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus.
A polícia também impediu a passagem pelo Gabinete do Enlace, o órgão oficial que representa Pequim em Hong Kong, para onde se dirigiam vários ativistas do movimento pró-democracia.
Apesar de uma forte presença policial, milhares de pessoas saíram esta de quinta-feira às ruas da cidade para recordar o massacre em grupos reduzidos em respeito à distância de segurança e para evitar aglomerações.
No Parque Vitória, membros da Aliança de Hong Kong de Apoio aos Movimentos Democráticos Patrióticos da China, entidade que promoveu o evento, acenderam velas e pediram a que se observasse um minuto de silêncio em memória das vítimas.
Desde 1990 que Hong Kong assinala a data do massacre com uma vigília, que em 2019 reuniu cerca de 180.000 pessoas.
Este ano a proibição das autoridades levou os organizadores a procurarem formas alternativas de recordar a data, designadamente partilhando imagens de velas acesas nas redes sociais.
Ao longo do dia, as igrejas católicas da cidade acolheram vários ativistas para que estes pudesses acender velas e na Universidade de Hong Kong os estudantes renderam homenagem à Coluna da Infâmia, uma escultura de betão que representa 50 corpos retorcidos para recordar os que morreram na sangrenta repressão militar de Pequim contra os protestos estudantis.
As celebrações de hoje foram também marcadas por uma calma tensa, tendo em conta a recentemente aprovada Lei de Segurança para Hong Kong, que permite a Pequim proibir todos os atos de “subversão contra o Governo” chinês na cidade.
O texto visa “salvaguardar a segurança nacional” após quase um ano de protestos dos movimentos pró-democracia, em que se registaram dezenas de confrontos entre ativistas e a polícia local.
A esta regra juntou-se esta quinta-feira uma nova lei aprovada pelo Conselho Legislativo local, que prevê penas de prisão até três anos para casos de injúrias à “Marcha dos Voluntários”, o hino da China, e com multas que podem chegar aos 50.000 dólares de Hong Kong (cerca de 5.750 euros) a quem o desrespeitar.
O movimento da Praça Tiananmen foi esmagado na noite de 3 para 4 de junho de 1989, quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim a sete semanas de protestos.
O número exato de pessoas mortas continua a ser segredo de Estado, mas as “Mães de Tiananmen”, associação não-governamental constituída por mulheres que perderam os filhos naquela altura, já identificaram mais de 200.
O acontecimento continua a ser tabu na China.