"O meu objectivo é ir a Tóquio. Ainda me sinto com motivação para continuar entre as melhores", diz à Renascença Telma Monteiro. A judoca portuguesa esteve no programa "Olá Manhã!" e trouxe consigo a medalha de bronze conquistada no Rio de Janeiro, a única para Portugal nestes Jogos Olímpicos.
Nesta entrevista, Telma Monteiro falou do seu novo livro, “Na Vida Com Garra”, e confessou que quando está "stressada" gosta de arrumar a casa.
Está sempre toda a gente à espera de mais uma medalha da Telma Monteiro. Essa expectativa do público é uma coisa que se aprende a gerir?
Tento passar uma mensagem para controlar a expectativa das pessoas, mas acho que é impossível até porque tinha toda essa carga de ter já alcançado muitos bons resultados, mas desta vez não senti isso como pressão. Senti como uma motivação. Prefiro que as pessoas acreditem que eu vou ganhar.
Depois da vitória, soltaste um grande grito. O que é que disseste?
Disse: “Eu vim para ficar!” Foi uma coisa que me saiu, não planeada, porque era um combate que se perdesse saía fora da competição e ficava para aí em 7.º ou em 9.º, não me lembro. Mas o grito foi uma afirmação. Foi para dizer que eu estou aqui para ficar, vim para ganhar a medalha e ainda vão ter que levar comigo.
Qual é a expectativa de um atleta em termos de idade para chegar a bons resultados?
Depende muito. Podem aparecer logo bons resultados no início da carreira e ganhar logo uma medalha nos Jogos Olímpicos ou pode ser mais tarde. Por exemplo, eu tive muito bons resultados em campeonatos da Europa e do Mundo e ainda não tinha conseguido o mesmo nos Jogos. Mas sempre achei que quando chegasse aos 30 já tinha a medalha.
Vamos ter Telma Monteiro nos Jogos Olímpicos de Tóquio?
Sim. O meu objectivo é ir a Tóquio. Ainda me sinto com motivação para continuar entre as melhores.
E as lesões? Tiveste uma carreira quase sem lesões, mas agora recentemente…
Sim. Eu até tive uma carreira boa, no sentido de ter tido poucas lesões… até ao último ano. Esperei até aos 29/30 anos para ter as lesões todas. No ano passado fui operada ao cotovelo e este ano ao joelho seis meses antes dos Jogos Olímpicos.
Portanto, deixaste de viver. A não ser para treinar.
O meu plano era: fazia uma pós-graduação em gestão e marketing e estava entretida enquanto fazia os meus treinos, para não estar só focada nos Jogos Olímpicos. Mas entretanto também comecei a escrever o livro, fiz a pós-graduação e também tive que recuperar da lesão porque fui operada. Portanto, foi assim um ano… [risos]. Ah e tinha que arrumar a casa. Quando estou stressada gosto de arrumar a casa.
“Na Vida Com Garra” é um livro com ferramentas para contrariar as adversidades?
Sim, no fundo o que tentei quando escrevi o livro – e fui eu que escrevi – foi tentar passar aquilo que achava importante da minha carreira, mas de uma forma que pudesse passar mensagens que seriam ferramentas para as pessoas. São exemplos de atleta de alta competição, mas que as pessoas podem aplicar no seu dia-a-dia. Não sei o que é que foi mais difícil: ganhar a medalha ou escrever o livro. [risos]
O que é que os portugueses dizem quando te abordam?
Os portugueses são muito tímidos. Abordam-me para dar os parabéns, para me desejarem boa sorte para o futuro, para me pedirem um autógrafo ou para tirarem uma foto. Mas, por exemplo, no Brasil as pessoas não nos conheciam, mas queriam vir dar-nos os parabéns e estar connosco porque sabiam que pertencíamos à equipa olímpica portuguesa. Um orgulho. Foi outra realidade.
E houve grande apoio dos brasileiros nestes jogos…
Foi muito bom. Porque nós estávamos a competir e, desde que não competíssemos contra um brasileiro, havia um enorme apoio nas bancadas. Eles chamavam por nós, gritavam por Portugal e eu sentia que estava a competir com o apoio como se fosse do povo português, mas não tinha essa pressão, essa responsabilidade que sentimos quando estamos a competir em Portugal. Foi muito bom competir no Brasil.
Sem ser em competição quem é que querias “levar ao tapete”?
Não há assim muitas pessoas. Eu costumo focar-me nas pessoas que me trazem coisas positivas. As outras simplesmente temos que deixar para trás. Não me preocupo muito com as pessoas que não trazem nada de bom.
Os rapazes metiam-se contigo na escola ou tinham medo que lhes batesses?
Por acaso metiam-se. No 5.º ano tenha um colega que queria namorar comigo. E eu já sabia. O que é que acontecia? Durante algum tempo ele era muito meu amigo e eu ficava com medo daquilo. Porquê? Porque ele era muito meu amigo, mas lá viria o momento em que ele iria perguntar-me se eu queria namorar com ele e essa parte eu já sabia que ia correr mal. Porque eu não queria namorar e ele depois… queria-me bater [risos]. Tenho medo de me encontrar hoje com ele. E se ele fica simpático outra vez?
O que é que foi mais difícil de abdicar para atingir este patamar?
O tempo. O tempo que deixamos de ter para estar com as pessoas de quem gostamos é o mais importante. As outras pequenas coisas, como as jantaradas com os amigos ou os passeios da escola, têm menos importância porque tive outro tipo de experiências muito positivas que acabaram por compensar.
O hino, a bandeira, as medalhas. Tudo isto traz muitos arrepios?
Sim, é sempre um momento muito especial. É o momento em que vemos todo aquele trabalho ser recompensado. Claro que, tal como tento explicar no meu livro, quando nós temos um objectivo, trabalhamos para esse objectivo e, quando as nossas motivações são boas, acabamos sempre por ganhar muitas coisas positivas que não estávamos à espera. No fundo, mesmo que o objectivo não seja atingido… houve muitas coisas que conquistámos pelo caminho que não estávamos à espera. Mas é óbvio que conseguir fazer esse caminho todo e conquistar a medalha é muito bom.