Pedro Nuno Santos quer deputados do PS na "primeira linha do combate" e "sem ataques de ansiedade"
26-03-2024 - 14:48
 • Susana Madureira Martins

O líder do PS assumiu perante os deputados que o partido "não controla os timings" do calendário das legislativas e que é preciso apresentar nos próximos tempos um projeto com "consistência" e ver o impacto que tem a concretização da agenda da AD.

Na primeira reunião com a bancada parlamentar do PS desta legislatura, Pedro Nuno Santos pediu esta terça-feira aos deputados que apresentem o projeto do partido "com consistência" e "sem ataques de ansiedade".

O líder socialista, na reunião que decorreu à porta fechada, deu mesmo o exemplo dos partidos mais à esquerda, o Bloco de Esquerda e o PCP, que "têm necessidade de apresentar serviço", caso da moção de rejeição ao programa de Governo dos comunistas, mas que o PS "não precisa disso".

Num novo contexto parlamentar, Pedro Nuno Santos assume-se na liderança da oposição - "a oposição somos nós" - e os próximos tempos devem servir para o PS apresentar propostas "com consistência, sem ataques de ansiedade".

A Renascença sabe que, na intervenção inicial, o líder socialista terá querido alertar os deputados que o partido "não controla os timings" da legislatura e considera que "não é plausível" ter eleições antecipadas antes de 2025. Assim, os deputados do PS passam agora a ser "a primeira linha do combate" do partido, com Pedro Nuno Santos a antever um tempo "muito desafiante" daqui para a frente.

A ideia é esperar para ver a AD a implementar o programa eleitoral que desenhou e o impacto que terá na vida das pessoas, sendo que o desempenho da economia "é imprevisível" a médio prazo.

"Governar o país é com o Chega"

À saída da reunião com a bancada parlamentar, Pedro Nuno Santos disse aos jornalistas que o acordo entre a AD e o Chega para a eleição de José Pedro Aguiar-Branco, para a presidência do Parlamento, mostra que "na primeira necessidade os dois partidos entenderam-se".

Pedro Nuno Santos alertou os deputados que há uma maioria de direita na Assembleia da República, que "não é claramente assumida pelo PSD" e que é preciso deixar claro que "essa maioria existe".

O líder socialista quer assim deixar claro que o PSD fez um acordo não assumido com André Ventura e que é preciso explorar essa ideia de que "governar o país é com o Chega".

Entre os socialistas é ainda notado que os partidos à esquerda têm mais deputados do que o PSD sozinho, mas "a direita, quando é necessário, entende-se" e, publicamente, o PS quer deixar isso claro.

Outro alerta que terá sido feito aos deputados, segundo relatos feitos à Renascença, é que o PS não pode deixar correr a ideia de que há três grandes partidos em Portugal, ou seja, é preciso evitar que o Chega entre na equação dos partidos que garantem a alternância de poder.

A matemática que os socialistas querem manter é que, por um lado, há a AD e do outro o PS, na liderança da oposição.

Sem refundação do PS, Pedro Nuno Santos pede "respostas inovadoras"

Tendo um legado de oito anos consecutivos no poder, o PS precisa agora de adaptar-se a todo um novo contexto. Sabendo que conta com grande parte do atual elenco de Governo de António Costa na bancada parlamentar, o líder socialista pediu aos deputados um olhar fresco sobre os problemas.

Pedro Nuno Santos quer que a bancada agarre no programa eleitoral com que o PS se apresentou a eleições e olhe para os problemas de sempre e também para os novos e tentem encontrar soluções.

Por mais que governar dê experiência e o PS esteja preparado para enfrentar problemas, isso também é visto como uma dificuldade para que o partido encontre respostas inovadoras para problemas novos.

Pedro Nuno Santos pede por isso "aprendizagem" aos deputados socialistas para encontrar novas respostas. Não é que o partido se vá agora refundar, mas é preciso que tenha a capacidade de se renovar. Assim, não se corta com o legado de Costa, mas evolui-se na continuidade.

Agora já não há Governo nem ministros para dizer o que é possível ou não ao PS propor via Parlamento, os deputados socialistas estão sozinhos no combate político. E neste contexto, a Assembleia da República ganhou toda uma nova centralidade.