Pelo menos 13 pessoas, incluindo um polícia, morreram desde o início da vaga de manifestações em várias cidades do Irão, a maior desde 2009.
Uma dezena de manifestantes morreu nos confrontos registados no domingo, último dia do ano de 2017, avança a televisão estatal.
“Nos incidentes da última noite, infelizmente, um total de 10 pessoas foram mortas em várias cidades”, refere a estação.
A notícia foi acompanhada por imagens de estragos provocados por manifestantes que contestam o Governo de Teerão.
A agência de notícias ILNA adianta que duas pessoas foram mortas a tiro e várias ficaram feridas, no domingo, na cidade de Izeh, na região sudoeste do país.
“Não sei se o tiroteio de ontem foi realizado por manifestantes ou pela polícia. O caso está a ser investigado”, disse Hedayatollah Khademi, um deputado do parlamento regional.
Esta segunda-feira, as autoridades deram conta ainda da morte de pelo menos um polícia, baleado por um manifestante que feriu ainda outros dois com uma espingarda de caça.
Antes dos confrontos graves de domingo já tinham morrido outros dois manifestantes.
Através das redes sociais foram convocados novos protestos para a capital, Teerão, e para mais 50 cidades.
A onda de manifestações começou na quinta-feira. O aumento dos preços, o descontentamento com as políticas do Governo e com os líderes religiosos são alguns dos motivos que levaram muitos iranianos a protestar nas ruas.
O Presidente do Irão, Hassan Rouhani, lançou um apelo à calma. Disse que os iranianos têm o direito de criticar as autoridades, mas avisou que não vai tolerar uma revolta.
“O Governo não vai ser tolerante com aqueles que danificarem propriedade pública, violarem a ordem pública ou causarem tumultos na sociedade”, avisou Hassan Rouhani.
Desta vez o alvo é o próprio regime
A especialista em Relações Internacionais Lívia Franco recorda que estes não são os primeiros protestos a que se assiste no Irão nos últimos anos, mas que há uma diferença entre estas manifestações e as da “Primavera Árabe”, em 2009.
“É verdade que não é o primeiro movimento generalizado de protesto, em 2009 já tínhamos assistido a protestos desta natureza, mas esses eram mais relacionados com exigências reformistas e contra o Presidente da altura, o Presidente Ahmadinejad, que era um ultraconservador. Os protestos que agora parecem estar no centro deste movimento são já não de natureza reformista, parecem ser mais dirigidos contra o próprio sistema e regime político”, à beira fazer 40 anos, diz.
“É verdade que, de facto, muitas das críticas que têm sido feitas são ao próprio regime e ao sistema, ao facto de ser uma teocracia. Em algumas cidades houve mesmo apelos ao regresso dos Pahlevi ao Irão”, explica, referindo-se à família real iraniana que foi deposta e exilada com a revolução.
“Eu não me entusiasmaria tanto com essas vozes, mas centrar-me-ia nesta questão de ser um movimento que vai para além de exigências de meras reformas”, conclui Lívia Franco.
[notícia actualizada às 19h03]