No caminho para os 50 anos do 25 de Abril de 1974, Fernando Rosas pega no programa do Partido Trabalhista inglês de 1945 para dizer o que acha que era revolucionário fazer hoje. Então, tal como agora, defende o historiador é preciso uma “defesa da nacionalização dos setores estratégicos da economia; uma nova reforma da agricultura que impeça o desastre para que esta caminha, a defesa dos serviços públicos essenciais como a saúde, a educação e segurança social e a defesa dos direitos do trabalho”.
Em entrevista ao podcast Avenida da Liberdade, da Renascença, Fernando Rosas olha também para o passado, percorre as suas memórias do tempo da ditadura, os dias em que esteve preso e a tortura a que foi sujeito pela PIDE.
A política estava "à mesa de casa"
Tornou-se militante do PCP tinha apenas 15 anos. Faz questão de esclarecer que “a política estava à mesa” em sua casa. Se por um lado, a família da mãe era da oposição, e o seu avô um republicano antissalazarista que chegou a ser preso, por outro, o lado do pai, era salazarista. Fernando Rosas sublinha, no entanto, que o seu pai não era um defensor do regime, mas o seu tio paterno chegou a ser “ministro de Salazar e depois de Marcello Caetano”.
Enquanto estudante no Liceu Pedro Nunes começou a intervir nos movimentos estudantis e depois, com entrada para a faculdade de Direito, na Universidade de Lisboa, acaba mesmo preso.
“A primeira vez que fui preso tinha 18 anos. Foi uma grande operação da polícia. Prenderam 40 estudantes, toda a direção do Movimento Associativo Estudantil, por denúncia de um funcionário do PCP que se passou para a polícia e que tinha o glorioso nome de Nuno Álvares Pereira”, diz, com ironia, Fernando Rosas.
Foi, então, condenado a 15 meses de prisão. Passou pelas cadeias do Aljube, Caxias e, mais tarde, por Peniche. Questionado sobre as condições nas prisões de então, Fernando Rosas distingue a experiência das duas vezes que esteve preso. “Em 1965 e 1966, que foi o tempo que lá estive, foi uma experiência de vida extraordinária. Estive preso com os assalariados rurais, os marmoristas de Pêro Pinheiro, e, portanto, foi um contato com o mundo real”.
Já sobre a prisão de Peniche, em 1971, considera-a mais do que “uma escola, uma universidade”. Dos tempos de cadeia recorda ainda os intensos interrogatórios e, em especial, a tortura do sono a que foi sujeito. “Quando nós dormíamos, os PIDES batiam nas paredes, tiravam-nos a cadeia, obrigavam-nos a fazer estátua, os pés inchavam, cheirávamos mal. A tortura do sono é direcionada para a quebra da vontade”, afirma, mas conclui: “Não me venceram”.
O 25 de Abril de 1974 apanhou Rosas na clandestinidade
Com o seu olhar pessoal, mas também o de historiador, recorda “o primeiro dia do resto” da sua vida, o dia 25 de Abril de 1974. Recebeu a notícia na clandestinidade. Apressou-se em ir para a rua. Subiu ao Largo do Carmo e recorda a alegria no momento em que as pessoas deixaram de ser apenas espectadoras da Revolução e perceberam que também faziam parte do dia “inicial e limpo”, como lhe chamou a poeta Sophia de Mello Breyner Andresen.
Questionado sobre o período que se seguiu à Revolução dos Cravos, Fernando Rosas é claro ao dizer que “uma das características da nossa democracia é que ela é filha da Revolução". "A democracia não se faz ‘apesar’ da Revolução, como diz a direita. Faz-se por causa da Revolução. As pessoas conquistam na rua os direitos fundamentais”, refere.
O 25 de Novembro e o acordo entre Álvaro Cunhal e Melo Antunes
Já sobre o momento que se seguiu, diz, a rir: “as revoluções são confusas!”. “O país ficou virado de pernas para o ar”, explica o historiador. Nesta entrevista ao podcast Avenida da Liberdade, Fernando Rosas vai mais longe no que toca ao 25 de novembro de 1975 e considera que foi um momento de “contenção da Revolução pactuada entre PCP e MFA”.
O historiador explica que, na sua opinião, o 25 de Novembro de 75, “não é bem uma contrarrevolução. É uma revolução pactuada sobretudo entre o PCP e o Grupo dos 9, do MFA, ou seja, entre o Álvaro Cunhal e o Melo Antunes”. Segundo Fernando Rosas, é devido ao 25 de Novembro que “faz, felizmente para todos nós, a economia de uma contrarrevolução. As conquistas revolucionárias fundamentais são depois consagradas na Constituição de 1976", remata Fernando Rosas.