A organização “Médicos Sem Fronteiras” (MSF) denuncia novo ataque no norte de Moçambique, em Cabo Delgado. Há mais de uma semana que a vila de Macomia foi palco de um violento ataque por parte de um grupo de homens armados, obrigando milhares de pessoas a procurar refúgio no mato ou noutros lugares.
Em entrevista à Renascença, a chefe de missão dos “Médicos Sem Fronteiras” no país, Caroline Raudron Rose, mostra-se preocupada com a crise humanitária na zona.
“A MSF está preocupada com as pessoas que fugiram de Macomia para o mato sem nada, sem água, comida, abrigo. O ataque já foi há alguns dias e sabemos que uma parte da população ainda está escondida no mato, porque têm medo de voltar ou porque a casa foi incendiada e tem uma grande parte da população que foram para outro lugar, por exemplo, Pemba, capital da província”, descreve Caroline Raudron Rose.
Nestas declarações à Renascença, Raudron Rose garante que na sequência deste ataque há mortos e feridos, mas não sabe precisar quantos. A chefe de missão da MSF sabe, no entanto, que há milhares de pessoas em grandes dificuldades.
“Estamos a falar de milhares de pessoas que perderam tudo ou quase tudo e que agora não têm acesso ao centro de saúde de Macomia, porque foi danificado”, descreve.
Cabo Delgado, província onde avança o maior investimento privado de África para exploração de gás natural, está sob ataque desde outubro de 2017 por insurgentes, classificados desde o início do ano pelas autoridades moçambicanas e internacionais como uma ameaça terrorista.
Desde há um ano, o grupo 'jihadista' Estado Islâmico passou a reivindicar algumas das incursões.
Em dois anos e meio de conflito, estima-se que já tenham morrido, no mínimo, 600 pessoas e que cerca de 200 mil já tenham sido afetadas, sendo obrigadas a refugiar-se em lugares mais seguros, perdendo casa, hortas e outros bens.
Desde março deste ano os grupos terroristas já ocuparam durante vários dias importantes povoações como Mocímboa da Praia, Muidumbe, Quissanga e Macomia.
O ministro da Defesa moçambicano, Jaime Neto, anunciou no domingo que foram abatidos a tiro 78 membros dos grupos armados, entre os quais dois cabecilhas tanzanianos.