O primeiro-ministro, António Costa, deve explicações ao país sobre a polémica em torno do acolhimento de refugiados ucranianos, defende o líder do PSD, que afasta para já uma comissão parlamentar de inquérito.
“Tudo leva a querer que o primeiro-ministro não sabia de nada ou que não valorizou as informações que lhe foram dadas”, declarou esta terça-feira Rui Rio, em conferência de imprensa.
Para o presidente social-democrata, “quanto mais tempo o primeiro-ministro demorar a explicar, mais isto se vai arrastar” e "o PS tem receio que se venha a descobrir que isto é mais transversal do que parece".
“Penso que pior será para o Governo. Mas isso não é da nossa conta. Da nossa conta é que as coisas têm que ser esclarecidas”, argumenta.
Rui Rio pede explicações e considera que, se António Costa não foi informado, “então já deviam ter sido demitidos os responsáveis que nos serviços de informação não cumpriram algo de gravíssimo, até porque não foi desmentido até à data que esses mesmos serviços não estavam a seguir esta associação”.
“Se estavam a seguir esta associação, não informaram porquê? Devo dizer que não acredito. Acho que informaram e aquilo que nós vamos ver agora também, numa audição que vai acontecer amanhã ao conselho de fiscalização do SIS, provavelmente o conselho de fiscalização do SIS vai dizer que nos relatórios que fiscalizou estavam lá informações destas”, antevê o social-democrata.
A Câmara de Setúbal está no epicentro da polémica em torno do acolhimento de refugiados ucranianos por elementos pró-Putin.
Rui Rio considera que o autarca de Setúbal “não tem condições” para continuar no cargo, mas remete uma posição para os vereadores sociais-democratas.
“Relativamente à parte local, os vereadores têm legalmente todos os poderes para ficarem ou saírem. O partido não tem tutela sobre eles. Os vereadores do PSD farão aquilo que muito bem entenderem numa articulação com os órgãos locais. Nós, do ponto de vista nacional, entendemos que não devemos interferir em tudo aquilo que é eminentemente local”, sublinhou.
“Sobre o presidente da Câmara de Setúbal nós entendemos que sendo conhecedor disto - e tudo aponta que era conhecedor - deveria tirar as consequências políticas de nada ser feito ou ter propositadamente ter fechado os olhos ao que estava a acontecer. Se assim é, acho que ele não tem condições”, frisou o líder do PSD.
Setúbal, um caso "inaceitável"
A ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares considerou esta terça-feira que o caso do acolhimento de refugiados ucranianos por cidadãos russos na Câmara de Setúbal "é inaceitável" e deve ser investigado.
"Lamento pela situação que considero inaceitável, seja pela irresponsabilidade ou por excesso de voluntarismo que baixou, ou terá baixado, os níveis de alerta para questões de privacidade que não poderiam acontecer em matéria de acolhimento de refugiados", afirmou Ana Catarina Mendes, numa audição no parlamento a propósito do caso do acolhimento de refugiados da guerra na Ucrânia na Câmara de Setúbal, alegadamente, por apoiantes do regime russo.
A Associação dos Ucranianos em Portugal revela que fez uma denúncia às secretas portuguesas em relação a russos pró-Putin no acolhimento de refugiados após anos de alertas ao Alto Comissariado das Migrações. No Parlamento, Pavlo Sadoka disse que fez as primeiras queixas sobre elementos pró-Kremlin em 2011.
Em sentido contrário, a Alta-Comissária para as Migrações (ACM), Sónia Pereira, garantiu que só teve conhecimento do facto de uma associação russa estar envolvida no acolhimento de refugiados ucranianos em Setúbal quando o caso foi denunciado na comunicação social.