Entre a escuridão desoladora da procissão das velas e as brumas que desceram sobre Fátima na manhã deste dia 13, a dimensão do recinto parecia engolir-nos a todos. Uma provação nunca vista, quer para os fieis que não puderam vir quer para os poucos pastores que celebraram num lugar deserto.
“É uma situação dramática e trágica, sem precedentes, que nos convida a refletir sobre a vida e, em primeiro lugar, a ir ao essencial, que muitas vezes esquecemos quando a vida corre bem. Põe a nu e revela a vulnerabilidade e a fragilidade da nossa condição humana”, disse D. António Marto, na homilia deste 13 de maio. “Às vezes, parecemos tão tremendamente fortes e somos tão tremendamente frágeis, vulneráveis."
Talvez tenha sido necessário esta experiência de “deserto” para nos darmos conta do essencial. Ao sentirmos “o chão a fugir-nos debaixo dos pés” e ”todas as nossas agendas e programações caírem como um castelo de cartas”, como recordou o cardeal Marto, pedimos ajuda à Mãe, ousamos manifestar-lhe “as nossas preocupações e medos, as nossas feridas e lágrimas e a nossa confiança”, certos de que Ela escuta as nossas lamentações e chora connosco.
Também o Papa se associou com uma mensagem tranquilizadora “a respeito da companhia que faz a nossa Mãe do Céu”. Pois quando a aflição aperta, escreve Francisco, reconhecemo-nos limitados, “tão limitados e tão pequeninos que um inesperado vírus pôde facilmente transtornar tudo e todos… Nossa Senhora é pequenina como nós, mas abandonou-Se a Deus e Ele engrandeceu-A, fazendo-A Mãe sua e nossa”.
Em 2017, num recinto carregado de fiéis, as palavras de Francisco “Temos Mãe!” ecoaram com a força de quem vive, na primeira pessoa esta certeza. Três anos depois, face ao actual contexto tão misterioso e triste, causado pela pandemia, esta certeza de Francisco sobre a Virgem Maria surge ainda mais reforçada. Sobretudo, porque “toda Ela é um coração materno, ocupado e preocupado em restabelecer a sua ligação connosco e a nossa ligação com Deus”.