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A Escola Nacional de Saúde Pública divulgou este sábado um estudo no qual se conclui que a pandemia de Covid-19 afeta de maneira desigual concelhos em Portugal, bem como países que tenham um contexto socioeconómico mais precário, “podendo mesmo exacerbar as vulnerabilidades pré-existentes ao nível individual”.
No “Barómetro Covid-19”, e sob o título "Quando a pandemia não é igual para todos", a Escola Nacional de Saúde Pública destaca que a saúde piora “a cada degrau que se desce na hierarquia social”. No contexto da pandemia do novo coronavírus a situação não é diferente, seja na fase da infeção, do diagnóstico, do tratamento e, por fim, da sobrevivência ou não.
As condições de vida adversas são, desde sempre, associadas à prevalência de doenças infectocontagiosas. Nos locais com maior densidade populacional, maior sobrelotação das habitações e mais dependência do uso de transportes públicos lotados, é mais difícil o distanciamento entre as pessoas, o que aumenta o risco de transmissão de vírus”, lê-se no “Barómetro Covid-19”, que acrescenta que idosos em lares ou reclusos podem igualmente enfrentar risco acrescido de infeção, “pelo confinamento em espaços mais reduzidos e partilhados com muitas outras pessoas”.
No caso português, e analisando os casos confirmados de Covid-19 em 308 concelhos, a Escola Nacional de Saúde Pública conclui que é naqueles onde existe maior densidade populacional “que existe também uma maior incidência acumulada de casos”.
Outro problema identificado é o da literacia. Desde logo, é explicado no estudo, “a falta de compreensão em algumas camadas populacionais sobre a forma como se propaga a doença pode dificultar a implementação ou adoção das medidas propostas pelos governos”, nomeadamente o cumprimento adequado da etiqueta de higiene ou o uso apropriado de equipamentos de proteção.
“Mesmo a avaliação da necessidade de distanciamento social pode ser comprometida por um menor nível de literacia, o que pode justificar algumas fugas ao confinamento obrigatório”, refere ainda o estudo.
Por outro lado, o rendimento pode igualmente ter peso na transmissão da Covid-19. Porquê? “O rendimento é condição necessária para o acesso a melhores condições de habitabilidade, com adequada rede de abastecimento de água e de esgotos que, por sua vez, são essenciais à higienização pessoal, necessária para diminuir a exposição à infeção.”
A Escola Nacional de Saúde Pública lembra que uma em cada quatro pessoas que ganham menos de 650 euros mensais perderam totalmente o seu rendimento.
“A precariedade no trabalho, remuneração desadequada face ao custo de vida e a dificuldade de acesso a apoios sociais podem impedir que as pessoas se resguardem mais nas suas habitações, para se protegerem do vírus. Trabalhos que não podem ser realizados à distância ou a necessidade de continuar a fazer pequenos trabalhos para garantir a subsistência a curto prazo, sujeitam as pessoas a uma maior exposição à infeção”, defende o estudo.
Assim, em Portugal, é nos concelhos com maior taxa de desemprego que existe maior número acumulado de infeções pelo novo coronavírus. Uma situação que não é tão diferente assim da realidade europeia. Segundo o estudo, “a maior incidência acumulada de casos por 100 mil habitantes é associada a países com maior taxa de desemprego e desigualdade de rendimento”.
A nível global, a pandemia já provocou mais de 271 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios. Mais de 1,2 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.114 pessoas das 27.268 confirmadas como infetadas, e há 2.422 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
O FMI prevê uma recessão em Portugal de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020. Já Bruxelas, estima uma contração da economia nacional de 6,8%, menos grave do que a média europeia, mas projeta uma retoma em 2021 de 5,8% do PIB, abaixo da média da UE (6,1%) e da zona euro (6,3%).