O primeiro título internacional do FC Porto foi conquistado há 35 anos. Na noite de 27 de maio de 1987, no Estádio Prater, em Viena, o FC Porto surpreendeu a Europa e bateu o Bayern de Munique por 2-1, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus.
A equipa germânica era a grande favorita para a final, mesmo não tendo o capitão Augenthaler, devido a castigo, nem o avançado Wohlfarth e o médio Hans Dorfner, ambos devido a lesão. Mas o Porto também tinha duas baixas importantes: Fernando Gomes, o bibota de ouro e o defesa Lima Pereira. Lesões graves impediram os dois jogadores de participarem na final.
De início, o FC Porto treinado por Artur Jorge alinhou com Mlynarczyk; João Pinto, Eduardo Luís, Celso e Inácio; Quim, André, Sousa e Jaime Magalhães; Madjer e Futre. O Bayern orientado por Udo Lattek entrou com Jean-Marie Pfaff; Nachtweih, Andreas Brehme, Pflügler e Winklhofer; Lothar Matthäus, Kogl, Hansi Flick, Norbert Eder, Dieter Hoeness e Michael Rummenigge.
O Bayern marcou primeiro por Kogl ao minuto 24. Ao intervalo a missão parecia ciclópica. Mas na segunda parte, o FC Porto transcendeu-se e deu a volta ao marcador. O discurso de Artur Jorge ao intervalo teve um enorme impacto na equipa como revela José Neto, membro da equipa técnica portista em 1986/87.
“Qualquer mensagem para que atinja um objetivo devidamente orientado para o sucesso deverá estar revestido de clareza, exposto de forma categoricamente otimista e positiva com uma intencionalidade arrebatadora como foi exposta ao intervalo do jogo pelo ‘rei’ Artur Jorge. Um discurso rodeado de uma carga emotiva espontânea reveladora de um estado de crença perfeitamente arreigado a uma condição de uma sólida consciência competitiva, fonte propulsora de um entusiasmo incandescente”, descreve José Neto em entrevista a Bola Branca.
Na segunda parte, Artur Jorge operou duas substituições. Aos 45 minutos, Juary entrou para o lugar de Quim. E aos 65 foi a vez de Frasco substituir Inácio. Pouco depois, em dois minutos, o Porto reconverteu o pesadelo em sonho. Aos 77 minutos, Madjer, num calcanhar mágico que ficou para a história da competição empatou numa assistência de Futre após jogada genial do avançado português. E dois minutos depois, um golo de Juary passou o Porto para a frente do marcador numa assistência de Madjer que reentrara no relvado segundos antes após receber assistência médica.
O banco do Bayern reagiu e ainda colocou em campo o avançado dinamarquês Lars Lunde mas a equipa portista foi estoica e quando soou o apito final do árbitro belga Alexis Ponnet, o clube azul e branco festejou euforicamente a sua primeira vitória internacional e uma das mais douradas páginas da história do futebol português.
“A equipa iluminou a letras douradas a história de um FC Porto campeão europeu com os jogadores a fazerem com arte, raça e competência a melhor exibição individual e coletiva até ao momento prestada”, refere José Neto.
O clique de Basileia
A conquista da Taça dos Campeões em 1987 registou-se três anos depois da primeira final europeia da história do FC Porto. A 16 de maio de 1984, em Basileia, o dragão perdeu por 2-1 frente à Juventus de Giovanni Trapattoni, onde alinhavam nomes como Platini, Boniek, Paolo Rossi, Vignola e Tardelli.
António Morais orientou a equipa devido à indisponibilidade de José Maria Pedroto que já se encontrava doente, vindo a falecer em janeiro de 1985.
José Neto considera que Basileia foi o tiro de partida para o Porto de dimensão internacional. “O momento do início de um novo FC Porto começou com a entrada na liderança do clube de Jorge Nuno Pinto da Costa em Abril de 1982. Ao chamar ao serviço operacional o Sr. José Maria Pedroto, abriram-se as expectativas e não se forjaram as esperanças. O mestre Pedroto era uma personalidade magnética inultrapassável pela liderança dos saberes e fazeres. Adiantadíssimo no tempo ajudando a encontrar as respostas de eficiência para o tratamento do jogo e da competição e as notas explicativas para que um repetido rendimento fosse de sucesso. José Maria Pedroto formava questões, rompia conceitos, desafiava o erudito e encorajava um intranquilo. Concorreu para o FC Porto ganhador do futuro cujo primeiro capítulo foi a final da Taça das Taças em Basileia contra a poderosíssima Juventus e que deixamos logo bem vivo o que as memórias dos campeões jamais deixarão de cantar as causas das coisas no seu máximo esplendor”.
Sete títulos internacionais de Pinto da Costa
Depois de Basileia, foi em Viena, em 1987, na memorável final frente ao Bayern de Munique, há 35 anos, que o FC Porto ergueu o primeiro troféu internacional na principal das competições europeias de clubes, a Taça dos Campeões, hoje denominada Liga dos Campões.
Depois da conquista de Viena, o FC Porto conquistou mais seis troféus internacionais: Liga dos Campeões (2004), Taça Intercontinental (1987 e 2004). Taça UEFA (2003), Liga Europa (2011) e a Supertaça europeia (1987). Todos os troféus internacionais do FC Porto foram conquistados com Pinto da Costa na presidência do clube.
“Ao longo da sua magistratura, Jorge Nuno Pinto da Costa arrasta consigo um estado absolutamente aglutinador onde nele habita um verdadeiro espírito de lealdade e compromisso assente num código doutrinal de um ser Porto e nos seus alicerces explorados até à medula: rigor, compromisso, ambição e paixão. Nos momentos em que parece vacilar quando os adversários exploram uma desenfreada crítica por vezes até rasgando a ofensa, aí mesmo, nesse momento, contra ventos e marés vê-se renovado o seu caráter de guerreiro e vai ao fundo da alma, e saca o que nela habita, transportando as pegadas da experiência vivida para as grandes causas renovadoras para vencer e vai novamente à luta e ganha continuando a construir vitórias cantadas até à rouquidão. Este presidente de facto é um presidente eterno”, conclui José Neto.
Membro da equipa técnica de José Maria Pedroto e depois de Artur Jorge, José Neto é Metodólogo de Treino Desportivo e Mestre em Psicologia Desportiva. Docente universitário, José Neto é também Doutorado em Ciências do Desporto e Formador de Treinadores F.P.F./U.E.F.A.