Para gerir melhor as agruras da vida e os impactos no seu bem-estar, há um conjunto de ferramentas que importa conhecer.
“As pessoas têm de perceber que:
- há ferramentas que as podem ajudar a sentir-se melhor quando se estão a sentir pior
- não devem ter medo das emoções – há que as aceitar
- é possível pôr em prática estratégias de gestão das emoções
- é possível promover o tempo passado em família
- é possível também ser mais tolerante connosco próprios
- é possível procurar equilíbrio entre as vidas pessoal, social e profissional”.
Quem o diz é Carlos Oliveira, presidente da Fundação José Neves, que nesta quarta-feira lança o “Guia de Desenvolvimento Pessoal – como investir no bem-estar e na saúde mental”, um documento de fácil leitura feito em parceria com a Escola de Medicina da Universidade do Minho – “todo ele está cientificamente fundamentado” – dirigido a “todos os portugueses que querem ser a melhor versão de si mesmos”.
Para tal, é importante perceber, antes de mais, que “não há saúde sem saúde mental” (diz a própria Organização Mundial de Saúde) e que “todos temos problemas” desta índole. “Esta é a primeira barreira que precisamos de deitar abaixo”, aponta Carlos Oliveira à Renascença.
Ansiedade, emoções e pensamentos
A ansiedade faz parte do lote de perturbações mentais, tal como a depressão – dois ‘estados de alma’ que a pandemia veio acentuar e que representam as perturbações mentais com maior incidência em Portugal e no mundo.
Mas não há que ter medo. O importante é identificar e aceitar o que sentimos para depois enfrentar.
“Muitas vezes, somos nós próprios que damos cargas aos acontecimentos que vivemos que geram mais ansiedade e mais desconforto, quando se calhar basta olharmos um bocadinho para esse impacto de forma diferente”, afirma o presidente da Fundação José Neves.
Como é que os pensamentos e as emoções estão ligados? A raiva e a ansiedade facilmente se confundem, mas as suas origens são diferentes, pelo que devem ser tratadas de modo diferenciado.
Daí, a importância do investimento no autoconhecimento. “A investigação científica tem demonstrado que as pessoas com mais dificuldades em reconhecer e expressar as suas emoções, apresentam níveis baixos de bem-estar e mais sintomas físicos de ansiedade e stress, como dores de cabeça constantes, dificuldades respiratórias, sistemas imunitários mais débeis”, refere o Guia.
Assim, saber identificar e caracterizar as emoções sentidas ajuda a determinar melhor o que está na sua origem e a melhor maneira de resolver o problema.
Aceitar sem julgar
Depois de identificar as emoções, é importante aceitá-las. É a única maneira de perceber que mensagem está contida em cada emoção, permitindo que possamos depois ajustar melhor o nosso comportamento.
“É importante termos consciência das nossas experiências emocionais, sem julgarmos o que fazemos, pensamos ou sentimos”, indica o Guia. As emoções fazem parte da vida. E a vida é feita de muitas vidas que se entrelaçam e desafiam o nosso equilíbrio emocional e o nosso bem-estar.
Não quero ir a um psicólogo!
Nem tem de ir. Repare, contudo, que se estiver a sentir febre ou outro sintoma físico, a tendência é procurar ajuda – nem que seja saber o que um amigo fez numa situação idêntica.
Já se o incómodo for de cariz emocional, há sempre grande dificuldade em partilhar e até expressar. A situação é, por vezes, esticada a tal ponto que, quando vai se procurar apoio médico, o incómodo já se transformou numa patologia a ser tratada pela psiquiatria ou pela psicologia.
É um estado que se pode evitar se forem tomadas medidas que estão ao alcance de qualquer um e que só depende da vontade própria: autoconhecimento, autoexercício para gerir as emoções e adoção de comportamentos para evitar a escalada até à patologia.
Sucesso e bem-estar
O sucesso pessoal está muito dependente da maneira como “gerimos as emoções e conseguimos ter um equilíbrio e um estado de bem-estar o mais permanente possível”, afirma Carlos Oliveira.
“As pessoas, para serem mais felizes, têm de ter educação, ter as competências para poderem conhecer o mundo que as rodeia e para serem bem sucedidas nas suas atividades, mas também têm de ter um conhecimento interior cada vez mais aprimorado para poderem equilibrar estes dois mundos: o conhecimento exterior e o conhecimento interior”, acrescenta.
O bem-estar é fruto de uma prática diária de rotinas que promovem o equilíbrio e uma boa gestão dos impactos do mundo que nos rodeia. “Não há propriamente receitas” únicas, dado que somos todos diferentes, “mas também somos muito iguais em muitas coisas e há ferramentas emocionais, ferramentas relacionais, ferramentas de gestão pessoal, ferramentas de gestão profissional” que faz sentido conhecer e explorar.
O “Guia de Desenvolvimento Pessoal – como investir no bem-estar e na saúde mental” apresenta algumas dessas ferramentas e ajuda a explorá-las, de maneira a que, depois, cada pessoa saiba utilizar a que mais lhe fizer sentido e aquela com a qual alcança melhores resultados.
A partir desta quarta-feira, este guia está disponível em formato digital e pode ser descarregado em PDF. “Queremos que as pessoas possam lê-lo e tê-lo também como uma ferramenta de consulta que possam depois complementar, quer com a aplicação 29KFJN quer com outras” (veja mais aqui sobre a aplicação 29KFJN).
“O guia tenta cobrir, com o apoio em fundamentação científica, estratégias para ajudar a gerir diversas vertentes” da vida pessoal, relacional, social e profissional, indica ainda o presidente da Fundação José Neves.
Portugal é o segundo país da Europa com maior prevalência de doenças psiquiátricas e um em cada cinco portugueses sofre de uma perturbação mental.