As crianças perante os atentados de Paris
23-11-2015 - 07:03

É evidente que as crianças não são todas iguais, quanto aos recursos e às capacidades de compreensão das grandes questões que fazem a atualidade. Mas não é difícil imaginar que, se tais assuntos já são de digestão complicada para os adultos, que fará com os mais pequenos.

Menos de 24 horas depois dos atentados de Paris, já havia um bom número de sites de meios de comunicação franceses preocupados com as repercussões de tão violentos e dramáticos acontecimentos entre os seus públicos mais pequenos. Fosse através de aconselhamento aos pais sobre o modo de abordar o assunto com os filhos, fosse através de sugestões de materiais dirigidos às escolas e aos professores, fosse através de depoimentos e entrevistas de psicólogos e outros especialistas, esta preocupação revelou um cuidado e um sentido de oportunidade dignos de elogio.

Nos dias seguintes, multiplicaram-se as iniciativas do mesmo tipo, a ponto de ter havido instituições - como foi o caso da revista Cahiers Pédagogiques - que fizeram uma pormenorizada e extensa sistematização de links para este tipo de materiais, enriquecendo-a com cartoons e desenhos de crianças, assim como fichas pedagógicas de trabalho.

Uma análise sumária dos títulos destas iniciativas permite observar três tipos de orientações nos materiais editados sobre os atentados, os media e as crianças. A primeira coloca a ênfase na transmissão de instruções e conselhos dos pais e dos professores e no modo de o fazer; a segunda aponta uma via mais dialogal, ao acentuar as conversas ‘com’ as crianças, em vez de conteúdos ‘para’ as crianças; finalmente, a terceira coloca-se do lado e a partir da perspetiva das próprias crianças.

É evidente que as crianças não são todas iguais, quanto aos recursos e às capacidades de compreensão das grandes questões que fazem a atualidade. Mas não é difícil imaginar que, se tais assuntos já são de digestão complicada para os adultos, que fará com os mais pequenos.

O mundo está turbulento, confuso e complexo. É sobretudo através dos media que tomamos conhecimento do que nele se passa, mas nem sempre a televisão, a rádio e a imprensa fazem a decodificação que é necessária para que os acontecimentos se tornem mais compreensíveis. As redes sociais, que são a principal fonte de informação para muita gente, sobretudo os jovens, vão elas próprias beber aos media. E se é verdade que, em muitos casos, ajudam a debater o que se passa, não é menos verdade que também acrescentam e ampliam informações e opiniões erróneas e enviesadas. Daí que faça falta a multiplicação de espaços e de oportunidades de aquisição de competências críticas relativamente à atualidade. Desejavelmente com o contributo também dos media.