É com muita preocupação e medo que a população de Wuhan tem encarado a evolução do coronavírus.
À Renascença, o português Luís Estanislau, treinador adjunto do clube de futebol Hubei Chufeng Heli, da segunda liga chinesa, relata o pânico que a população sente ao poder vir a viver o pesadelo de há 17 anos – altura em que a China foi atingida por um grande surto da chamada Síndrome Respiratória Aguda Grave.
"Nessa altura o vírus foi mais fatal e mais pessoas ficaram infetadas, portanto, as pessoas encaram agora esta situação com muito mais preocupação e medo. A população tem cumprido todas as normas de segurança e de precaução e é incrível ver como uma cidade com 11 milhões de pessoas se tornou, de repente, numa cidade fantasma, numa cidade deserta, onde não conseguimos ver ninguém na rua", conta.
Por esta altura, a grande prioridade de quem vive em Wuhan é garantir que não vai faltar comida em casa. No entanto, as idas às compras têm sido uma verdadeira luta e a população teme que vários supermercados fechem portas já este sábado, dia em que se assinala o Ano Novo Chinês.
"Nós dirigimo-nos ao supermercado e vemos um caos instalado: milhares de pessoas tentam obter o maior número de comida possível, mesmo que não seja necessário para a altura. Há quem consiga muito e há quem não consiga nada. Não foi o nosso caso, nós conseguimos obter a comida que queríamos, exceto legumes e água. Tivemos que ir hoje novamente ao supermercado e o nosso grande problema agora é que não sabemos como serão reabastecidas as prateleiras dos supermercados perante o Ano Novo", explica.
À Renascença, Luís Estanislau conta ainda que tem mantido contacto diário com os restantes portugueses que vivem em Whuan e garante que todos estão bem.
"A nossa equipa técnica é constituída por quatro portugueses e estamos juntos todos os dias. Entretanto, fomos contactados pela embaixada que nos informou que havia mais portugueses a viver nesta cidade. A partir daí, conseguimos os contactos e criámos um grupo num género de ‘WhatsApp’ chinês, com 10 elementos, e vamos falando todos os dias. Todos postam a informação que recebem, por exemplo, relativamente ao corte de ligações ferroviárias e áreas."
Os portugueses em Wuhan ponderam vir a pedir ajuda à Embaixada para sair do país caso a Organização Mundial de Saúde decrete emergência global de saúde pública. Para já, a missão é também acalmar as famílias que estão em Portugal.
"Falamos todos os dias com elas e conseguimos tranquilizá-las porque nós estamos bem, temos comida, estamos em casa, por isso estamos seguros. O problema será o futuro, que ninguém sabe o que nos reserva. Mas acreditamos que sendo decretada emergência global, teremos mais argumentos para que nos ajudem [Embaixada] a sair de Whuan", conclui Luís Estanislau.
Embaixada de Portugal em Pequim em contacto com portugueses em Wuhan
A embaixada de Portugal em Pequim, na China, está em contacto com os portugueses que se encontram em Wuhan, cidade onde ocorreram os primeiros casos deste coronavírus e onde foram identificados 20 cidadãos nacionais.
“A embaixada de Portugal em Pequim está a estabelecer contacto com os cidadãos portugueses que se encontram em Wuhan, tendo sido identificadas duas dezenas de cidadãos que são ali residentes, ou que se encontram em visita à cidade”, refere uma nota do gabinete da secretária de Estado das Comunidades Portuguesas.
O gabinete governamental explica que destes 20 cidadãos, “14 pessoas estavam já registadas como residentes em Wuhan junto da embaixada de Portugal em Pequim” e esclarece que, nos contactos com os portugueses, a embaixada “remeteu para as recomendações formuladas no Portal das Comunidades Portuguesas”.
A nota adianta que foi ainda criado um grupo de comunicação na rede social ‘WeChat’, através do qual “a embaixada mantém contacto com os cidadãos portugueses”, salientando que “foram igualmente disponibilizados os contactos de emergência da embaixada para o caso de necessidade”.
O documento adianta que no contexto da evolução do vírus “2019 – nCoV” a atuação do Ministério dos Negócios Estrangeiros português na China está a ser coordenada pela embaixada em Pequim, que “se encontra em articulação com outras representações consulares portuguesas no país (consulados de Macau, Xangai e Cantão) e com a Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, em Lisboa”.
O gabinete de Berta Nunes acrescenta que a embaixada prossegue “a monitorização atenta de todos os desenvolvimentos, através do diálogo com as autoridades governamentais chinesas, com a delegação da União Europeia na China e com as embaixadas de outros países, tendo também participado em reuniões com representantes da Organização Mundial de Saúde na China”.