“A Mongólia de hoje, com o seu empenho pelos direitos humanos e pela paz, desempenha um papel significativo no coração do grande continente asiático e no cenário internacional” disse o Papa esta manhã, no seu primeiro discurso oficial em Ulan-Bator. Francisco elogiou a determinação deste povo em deter a proliferação nuclear e apresentar-se ao mundo como país sem armas nucleares, nem pena de morte. “A Mongólia não é só uma nação democrática que realiza uma política externa pacífica, mas pretende desempenhar um papel importante em prol da paz mundial”, afirmou.
O Santo Padre manifestou “respeito e emoção” pelas ricas tradições deste povo, imaginando-se “a entrar pela primeira vez numa dessas tendas circulares, disseminadas pela majestosa terra mongol, para vos encontrar e conhecer melhor”.
Num discurso rico de referências à história e tradições multisseculares da Mongólia, o Papa mencionou as relações que no séc. XIII se estabeleceram com a visita, em 1246, do enviado papal, Frei Giovanni del Carpine, a Guyug, o terceiro imperador mongol, que apresentou ao Grã Khan uma carta do Papa Inocêncio IV, cuja cópia hoje Francisco ofereceu ao presidente.
"Queira o Céu que, nesta terra devastada por demasiados conflitos, se voltem a criar hoje, no respeito das leis internacionais, as condições daquela que foi outrora a pax mongolica, ou seja, a ausência de conflitos”, disse o Papa. “Oxalá passem as nuvens escuras da guerra, sejam varridas pela firme vontade duma fraternidade universal, na qual as tensões se resolvam com base no encontro e no diálogo, e a todos sejam garantidos os direitos fundamentais! Aqui, no vosso país rico de história e de céu, imploremos este dom do Alto e trabalhemos juntos para construir um futuro de paz”, acrescentou.
A vastidão dos espaços deste país, desde o deserto do Gobi à estepe, desde as grandes pradarias e bosques até às cadeias dos Altai e dos Khangai, “com os seus inúmeros ziguezagues dos cursos de água, que,vistos do alto, parecem requintadas decorações em tecidos preciosos antigos, são um espelho da grandeza e beleza de todo o planeta, chamado a ser um jardim hospitaleiro”, disse o Papa.
No seu discurso, o Santo Padre também valorizou a sabedoria de gerações de criadores de gado e cultivadores “sempre atentos para não romper os delicados equilíbrios do ecossistema”. E não esqueceu “a profunda conotação espiritual nas fibras da vossa identidade cultural”, considerando estupendo que a Mongólia seja hoje um símbolo de liberdade religiosa.
Num pais maioritariamente budista, mas aberto a outras confissões religiosas, o Santo Padre afirmou que “as religiões, quando apelam ao seu património espiritual originário e não se deixam corromper por desvios sectários, são suportes fiáveis na construção de sociedades sãs e prósperas, onde os crentes se esforçam para que a convivência civil e as diretrizes políticas estejam sempre mais ao serviço do bem comum”. E, apesar de os católicos constituirem apenas 0,04% da população mongol, Francisco reafirmou, perante as autoridades do país, a disponibilidade da comunidade católica, “apesar de pequena e modesta”, em participar com entusiasmo e empenho no caminho de crescimento do país, “difundindo a cultura da solidariedade, do respeito por todos e do diálogo inter-religioso, e trabalhando pela justiça, a paz e a harmonia social.”
No final da visita ao palácio presidencial, Francisco deixou escritano livro de honra esta breve frase, no livro de honra: “Peregrino da paz, neste país jovem e antigo, moderno e rico de tradição, tenho a honra de percorrer as vias do encontro e da amizade que geram esperança. Que o grande céu claro que abraça a terra mongol ilumine novos caminhos de fraternidade”.