É uma das queixas de empresários portugueses em Angola: a dificuldade nos vistos. De lá para cá, de cá para lá. João Garcia Polido, há dez a trabalhar em Angola de forma permanente, fez questão de levar a queixa até ao ministro dos Negócios Estrangeiros, mas Augusto Santos Silva, em declarações à Renascença, disse Portugal não pode fazer mais na facilitação de vistos de curta duração.
“A nossa grande dificuldade é a questão dos vistos. Acho que todos os portugueses devem dizer o mesmo. Só para dar um exemplo: tenho cinco funcionários angolanos que preciso de levar a Portugal com alguma urgência, para terem formação e treino, para depois virem para Angola e retomarem a sua atividade e ando há mais de um mês para conseguir obter os vistos”, lamenta este português que tem uma empresa na área da certificação e formação profissional.
João Polido, de 54 anos, foi um dos muitos portugueses que, segunda-feira à noite, foram ao encontro de António Costa com a comunidade residente em Luanda e que ouviram o primeiro-ministro agradecer-lhes por terem permanecido em Angola mesmo nos maus momentos.
“Para haver esta ponte de que o primeiro-ministro falou, num discurso que até a mim me emocionou, temos de tirar esses obstáculos do caminho”, defende o empresário.
“Portugal já foi o mais longe que pode ir na facilitação de vistos de curta duração”, afirma, contudo, Augusto Santos Silva, remetendo para o mais recente decreto sobre este assunto, publicado há uma semana, e para as obrigações de um país no espaço Schengen.
O que Santos Silva continua a defender é uma abertura de autorizações de residência aos cidadãos de países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O ministro compara-a aos "vistos gold": enquanto para conseguir um "visto gold", que é uma autorização de residência permanente, é preciso fazer um investimento, para conseguir uma autorização de residência em qualquer país da CPLP seria só preciso ter nacionalidade de um dos países que a formam. E assim, exemplifica Santos Silva, bastaria ser brasileiro para residir e trabalhar de forma permanente em Angola ou português para ter autorização de residência em Moçambique.
A proposta foi feita por António Costa na sua primeira visita oficial, a Cabo Verde, e defendida na Cimeira da CPLP de 2016, em Brasília. Formalizada no ano seguinte, por Portugal e Cabo Verde, a proposta recebeu o apoio do Presidente angolano, João Lourenço, na cimeira da CPLP deste ano.
A livre circulação no espaço da CPLP foi definida como prioridade, mas ainda está longe de ser uma realidade. Contudo, Santos Silva promete ir insistindo.