Ana Patrícia Fonseca integra a delegação portuguesa que participa na Cimeira do Clima. A responsável pelo Departamento de Educação para o Desenvolvimento e Advocacia Social da FEC - Fundação Fé e Cooperação, representa no encontro a ‘Plataforma Portuguesa das ONGD’, de que a FEC faz parte.
Em declarações à Renascença a partir de Madrid diz esperar que a Cimeira seja “uma rampa de lançamento” para medidas concretas, tendo em conta que reúne “mais de 170 países, centenas de cientistas, organizações da sociedade civil e organismos multilaterais”. O que importa é que “todos atualizem as suas contribuições” para combater as alterações climáticas.
“Chegámos a esta Cimeira com as evidências científicas e com as soluções técnicas. Todos sabemos o que é que temos de fazer, que agora é o tempo de agir - que é, aliás, o mote desta Cimeira, 'Tempo para agir'”, lembra, sublinhando que a responsabilidade maior está nas mãos de quem governa e toma decisões políticas. “Enquanto organizações da sociedade civil é isso que pedimos aos governos, que tomem medidas concretas, medidas ambiciosas, que garantam a neutralidade carbónica até 2050, que promovam a transição para um sistema agroecológico sustentável, e que se transforme o setor energético, de forma a garantir que todos tenham acesso a energia renovável”.
Ana Patrícia Fonseca lembra que para as organizações não governamentais que trabalham nesta área – e com responsabilidade acrescida para as que estão ligadas à Igreja, como a FEC – “travar as alterações climáticas é, antes de mais, uma questão de justiça e uma questão de respeito pelos direitos humanos”, porque os países e as populações mais vulneráveis são “os que mais sofrem com os efeitos das alterações climáticas, mas também os que menos contribuíram para este fenómeno”. Espera, por isso, que “seja feita esta justiça e que haja este respeito pelos direitos humanos”.
Mas, estarão os portugueses mais atentos para este problema? Ana Patricia Fonseca garante que sim. “Temos visto nos últimos meses que sociedade portuguesa está muito desperta para este tema”, mas as organizações da sociedade civil continuam a ter “um papel chave na sensibilização, na literacia e na tradução desta linguagem, que é uma linguagem científica e técnica”, de forma a “promover um ativismo fundamentado e consequente, que traduza a mudança que precisamos”.
Sensibilizar “pela positiva”
Para além da “descodificação” da linguagem técnica, esta responsável considera igualmente importante passar uma mensagem de esperança no futuro. “Temos também esta responsabilidade de veicular mensagens positivas e transformadoras, e enquanto organizações da sociedade civil, a FEC, e todos os membros da ‘Plataforma Portuguesa das ONGD’ têm a facilidade de trazer até estes grandes fóruns exemplos das alternativas locais, porque trabalhamos em proximidade com as populações, e conseguimos ouvir as vozes das comunidades e os seus apelos, que muitas vezes são gritos, neste grandes encontros internacionais”.
Promover “o desenvolvimento humano integral, através da cooperação e solidariedade entre pessoas, comunidades, organizações e Igrejas”, é a missão da FEC. A Fundação Fé e Cooperação, que está ligada à Conferência Episcopal Portuguesa e aos organismos que representam os Institutos Religiosos masculinos e femininos, atua na área da sensibilização dos jovens e da sociedade em geral para a defesa do planeta.
“Não deixes o teu futuro em stand by” é o mote da mais recente campanha ‘Pequenos passos’ – no âmbito do projeto Juntos pela Mudança, que pode ser consultado no site da FEC – que desafia os portugueses a refletir e, se possível, a mudar os seus estilos de vida. Este apelo à mudança de comportamentos a nível individual é complementado por um trabalho de advocacy junto dos decisores políticos e pela mobilização de outras organizações.
Atenção às “falsas soluções”
A CIDSE - organismo internacional que reúne organizações católicas que atuam na área do desenvolvimento e justiça social, como a FEC - , e que também marca presença na Cimeira de Madrid, emitiu um comunicado no qual alerta para as “soluções de energia ‘falsas’”, e reafirma o apelo deixado pelo recente Sínodo Especial dos Bispos sobre a Amazónia para que haja “ações climáticas urgentes” que permitam enfrentar “o clamor da terra e o clamor dos pobres”.
Para além de denunciar essas “falsas” soluções de energia, que só estão a causar “mais danos às pessoas e ao planeta”, a CIDSE pretende mostrar “soluções positivas”, que existem e aproveitam “o poder da natureza e das pessoas para o bem”. Este organismo internacional quer, ainda, garantir que “as vozes populares da América Latina continuem a ser ouvidas em Madrid”, lembrando que o encontro devia ter decorrido em Santiago do Chile, mas teve de ser cancelado por razões de segurança, face à “inquietação social generalizada” no país.
A CIDSE reafirma, ainda, o seu apoio aos protestos “nas ruas de todo o mundo, exigindo ação climática”, e garante que continuará a “pressionar os governos”, para que responsam aos apelos de mudança, por mais “justiça e igualdade para mulheres, crianças, indígenas, comunidades isoladas e gerações futuras”.