A escuta é o primeiro e indispensável ingrediente do diálogo e da boa comunicação” diz o Papa Francisco na sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais. A data motivou o encontro promovido pelo Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e pelo Gabinete de Comunicação Social da Diocese de Setúbal que decorreu esta segunda-feira na Reitoria do Santuário de Cristo Rei, em Almada.
Na abertura do encontro, a diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais começou por lembrar que “quando o Papa fala em Roma, o mundo ouve”. Isabel Figueiredo sublinhou a necessidade de escuta no contexto da atual sociedade. Em contexto de pandemia, referiu a responsável, “a comunicação social tem um papel fundamental. Para que as pessoas compreendam o que lhes está a acontecer”.
Mas Isabel Figueiredo referiu-se também à Comunicação Social da Igreja dizendo que “não pode aparecer só com as notícias sobre os escândalos”. Nas palavras desta responsável é necessário “superar esta realidade e trazer ao mundo outras realidades. Falar sobre a Jornada Mundial da Juventude é trazer outro foco, é dar notícia ao mundo, é ocasião de rejuvenescer”, destacou.
Na abertura do encontro esteve também presente D. João Lavrador. Segundo o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, o Papa Francisco deixa um apelo a um “caminho para uma comunicação autêntica”. No seu entender, “um verdadeiro encontro só pode nascer da escuta, quando ouvimos com o coração, o outro sente-se não julgado”, vincou.
Dando como exemplo o problema migratório que afeta a Europa, D.João Lavrador disse que a questão “exige uma escuta, cada um tem uma história que precisa de ser escutada, para ser narrada e ser transmitida”.
Nas palavras do também bispo de Viana do Castelo, “mesmo para crescer como comunicadores é preciso reaprender a escutar”. Para D.João Lavrador, a mensagem de Francisco para este Dia Mundial das Comunicações Sociais é “mais do que outras, uma mensagem cheia de cultura bíblica”.
“Para ouvir realmente é preciso coragem, coração livre e aberto. As preocupações do Papa Francisco é para que a comunicação social se torne próxima das pessoas. E junto delas apreenda as suas preocupações”, afirmou D.João Lavrador.
Para o Bispo de Viana do Castelo é importante “não ceder a uma comunicação de gabinete, ou de sensacionalismo, de opinião e das redes sociais”. Evocando as palavras de Francisco do ano passado, pela mesma ocasião, D.João Lavrador referiu que “é preciso gastar as solas dos sapatos”, não realizar “jornalismo de gabinete” e “aprofundar o dever de realizar uma comunicação social atenta à pessoa real, na defesa da sua dignidade”
O encontro promoveu um debate no qual participaram a jornalista Paula Moura Pinheiro, Augusta Delgado da Comissão Preparatória do Sínodo Diocesano de Setúbal 2025 e João Marques do Comité Organizador Diocesano de Setúbal para a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa em 2023.
Paula Moura Pinheiro falou de a importância das ações “olhar e ver, ouvir e escutar”, como condição para se fazer jornalismo. Segundo a jornalista vivemos o “tempo mais ruidoso” marcado por “dispersão, distração, permanente aliciamento da nossa atenção. Tantas solicitações” e isso, explicou a comunicadora “aumenta a dificuldade da escuta individual e em contexto profissional.
Para Augusta Delgado o verbo escutar destacado pelo Papa Francisco, é essencial no trabalho que está a levar a cabo. “A preparação para o Sínodo é uma dinâmica de escuta. Caminhar juntos é assente na escuta” referiu a responsável que alertou para o “perigo de escutarmos só a nós próprios”. Com o intuito de “não deixar ninguém de fora, escutar todos”, Augusta Delgado lembrou que este é um exercício que “exige paciência”, mas que terá um efeito transformador.
Já João Marques do Comité Organizador Diocesano de Setúbal abordou o papel dos jovens e a sua relação com a informação. Face às múltiplas ofertas de conteúdos, disse que “torna-se difícil distinguir o que é jornalismo e o que não é”. Na opinião deste jovem que prepara o caminho para a Jornada Mundial da Juventude “apesar do jornalismo ter o seu papel, há informação noutras plataformas”, referiu, reconhecendo que “oferecem o mesmo tipo de acesso” e que por vezes “para os jovens é difícil discernir”.
A fechar os trabalhos interveio D.José Ornelas. O Bispo de Setúbal lembrou uma história de Moçambique para alertar para o facto de quando “não há ninguém que escute”, esse “é o pior dos abandonos”.
Para neste exercício de escuta, diz o Bispo de Setúbal é preciso “escutar com o coração. “A palavra que se escuta é a palavra que transforma”, sublinhou o prelado. “A palavra que se escute, não nos deixe ignorar” disse D.Ornelas.
A fechar os trabalhos, o Bispo lembrou a todos os presentes que “o verdadeiro jornalismo é aquele que faz a narrativa, sem manipular, e dá sentido ao que se vive”.