Podem já ter morrido 31 pessoas na repressão aos protestos que se multiplicam no Irão após a morte de uma mulher detida pela polícia, na semana passada. As redes sociais foram bloqueadas no país.
A televisão estatal aponta para uma marca mais baixa de 17 vítimas mortais, mas um grupo humanitário citado pela BBC aponta para o número mais elevado.
As manifestações têm-se espalhado por várias cidades daquela república islâmica desde que foi revelada a morte de Masha Amini, de 22 anos, na sexta-feira.
De acordo com as informações publicadas hoje pelas agências de notícias iranianas, sete manifestantes e quatro membros das forças de segurança foram mortos durante os protestos. As autoridades iranianas negam, contudo, qualquer envolvimento nas mortes dos manifestantes.
Os protestos chegaram mesmo à cidade sagrada de Qom, local de nascimento do líder supremo iraniano Ali Khamenei, que discursou hoje num evento em Teerão sem mencionar os protestos no país.
As manifestações decorrem nas ruas de quinze cidades iranianas localizadas no noroeste e no sul do país, assim como na capital.
Os manifestantes, em fúria, bloquearam estradas, incendiaram contentores de lixo e veículos da polícia, atiraram pedras contra as forças de segurança e gritaram slogans antigovernamentais, segundo a agência de notícias oficial Irna.
A polícia usou gás lacrimogéneo e fez detenções para dispersar a multidão, revelou também a agência.
A Amnistia Internacional (AI) denunciou uma "repressão brutal" e "o uso ilegal de tiros com esferas de aço, gás lacrimogéneo, canhões de água e bastões para dispersar os manifestantes".
Homens e mulheres, muitas da quais tiraram o lenço islâmico da cabeça, têm-se juntado em Teerão e outras grandes cidades do país, segundo a mesma fonte.
“Não ao lenço, não ao turbante, sim à liberdade e à igualdade”, gritaram os manifestantes num ajuntamento em Teerão, um slogan que foi repetido em manifestações solidárias no estrangeiro, incluindo em Nova Iorque e Istambul.
[Notícia atualizada às 18h55]
Um vídeo filmado na cidade de Shiraz, no sul do país, mostra as forças de segurança a abrir fogo contra os participantes nas manifestações que se prolongaram até às primeiras horas de hoje.
Masha Amini, de 22 anos, foi presa em 13 de setembro, por “vestir roupas inadequadas”, pela polícia de moralidade na região do Curdistão, unidade responsável por fazer cumprir o rígido código de vestuário na república islâmica.
Ativistas afirmam que a jovem foi morta com tiros na cabeça, uma alegação negada pelas autoridades, que garantem não ter maltratado a mulher e dizem que Amini morreu de ataque cardíaco.
A polícia iraniana divulgou imagens de videovigilância que mostram, supostamente, o momento em que Amini desmaiou, mas a família da vítima garante que a mulher não tinha qualquer historial de problemas cardíacos.
Amini, que era curda, foi sepultada no sábado na sua cidade natal de Saquez, no oeste do Irão, onde eclodiram os protestos que, entretanto, espalharam-se para Teerão e várias outras cidades do país.
O Irão tem vivido várias ondas de protestos ao longo dos últimos anos, normalmente reprimidas pela força, motivadas principalmente pela longa crise económica, agravada pelas sanções ocidentais devido ao seu programa nuclear.
Entretanto, numa aparente tentativa de controlar os protestos, a internet móvel foi bloqueada quase completamentee limitadas e o acesso a aplicações como o Whatsapp e o Instagram foi restringido no país.
Segundo a plataforma NetBlocks, que monitoriza a conectividade dos utilizadores e a censura na internet, os principais servidores de rede móvel no Irão “cessaram quase completamente os seus serviços”.
“São as mais severas restrições de internet [no Irão] desde o massacre de novembro de 2019”, disse a NetBlocks.
Segundo a agência de notícias Fars, esta medida foi tomada devido de "ações realizadas por contra-revolucionários contra a segurança nacional através dessas redes sociais".
[Notícia atualizada às 15h28]