D. Rui Valério pede um mundo onde as "pessoas não deixem de ser tratadas como pessoas” por serem pobres
17-11-2024 - 16:29
 • Ana Catarina André

No bairro do Zambujal, onde celebrou missa este domingo, o Patriarca de Lisboa pediu ações concretas e a intervenção da União Europeia para responder à pobreza.

O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, pede que se acabe com a “retórica das grandes máximas” e se passe à “atuação concreta” no combate à pobreza. No Dia Mundial dos Pobres, que se assinalou este domingo, o bispo de Lisboa presidiu à missa no bairro do Zambujal, na Amadora, onde nas últimas semanas se registaram diversos tumultos, e disse aos jornalistas que a “questão da pobreza é de tal forma complexa que transcende os confins de uma fronteira nacional”.

“Gostaria de lançar um desafio à União Europeia. Este é mais um daqueles campos em que só em conjunto é possível responder a estes desafios. Estamos a falar de realidades que não são só fruto de uma perspetiva social. Só numa abordagem holística é possível fazer face e encontrar uma resposta cabal”, frisou.

O Patriarca de Lisboa e administrador apostólico das Forças Armadas e das Forças de Segurança admitiu “preocupação” pelos incidentes que se verificaram recentemente nos bairros da periferia de Lisboa, e chamou a atenção para a “dificuldade” de a sociedade “encontrar uma alternativa, uma possibilidade de fazer diferente”. A propósito da sua visita àquela igreja, uma iniciativa da Caritas Diocesana de Lisboa, para assinalar este dia mundial instituído pelo Papa Francisco, D. Rui Valério disse querer estar próximo das comunidades e “ser um Patriarca da estrada”.

A par da pobreza material, o prelado reconhece também a existência de uma pobreza de valores, “um défice de ética a nível social, cada vez mais exacerbado pelo individualismo”.

“Começamos a ter dificuldade em abrir-nos ao horizonte formado pelo tu do outro, o seu mundo, a sua história, o seu percurso. A tecnologia também não tem ajudado muito. Progride a qualidade dos meios de comunicação, mas é cada vez mais pobre o diálogo. Cada um dialoga consigo mesmo cada vez mais.”

Na homilia, D. Rui Valério sublinhou o papel de cada pessoa no combate às desigualdades e foi interpelado por uma das crianças do coro que lhe perguntou que sentido faz excluir alguém por não ter dinheiro. “Pelo menos metade da sociedade não pensa como tu”, respondeu o Patriarca. “Ainda há pessoas que não têm dinheiro, e porque não têm, não são aceites, não são bem-vindas. Aquilo que estou a dizer é que, a partir da palavra de Deus, o mundo com que sonhamos e que queremos construir é aquele, onde por razões económicas e sociais, as pessoas não deixem de ser tratadas como pessoas”, disse, enfatizando que ninguém deveria ser excluído por não ter uma conta bancária ou uma casa.