Cerca de um mês depois de uma violenta explosão ter devastado a região portuária da capital libanesa, no início do mês de Agosto, uma religiosa portuguesa, a Irmã Maria Lúcia Ferreira, revela que o bairro de Achrafieh, “habitado na sua maioria por cristãos”, foi uma das zonas mais atingidas pela explosão.
“Foi um bairro que sofreu bastante durante a guerra”, recorda, “mas a destruição, agora, é muito maior do que durante todo esse tempo."
Numa mensagem enviada à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), a Irmã Myri, como é mais conhecida, que vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na Síria, quando se deu a explosão em Beirute, tanto a sua madre superiora como algumas das religiosas da comunidade estavam muito perto da capital libanesa onde desenvolvem diversos projetos de ajuda humanitária.
Passado quase um mês, "o cenário de destruição permanece quase inalterável, sublinha esta religiosa.
Na sua mensagem, explica que “as casas que não estão destruídas, têm os vidros partidos, e importa dizer que nessa região de Beirute, reconstruída depois da guerra, há muitos edifícios novos cujas paredes são envidraçadas. Então, as paredes das casas ficaram destruídas. Não só os vidros, mas também portas e eletrodomésticos. Tudo ficou estragado.”
A Irmã Myri diz que há muitas famílias que ainda aguardam pela possibilidade de poderem colocar de novo portas e janelas nas suas casas, de forma a poderem habitá-las de novo “sem medo de assaltos e roubos”.
Nestas condições, diz a religiosa portuguesa, haverá cerca de “trinta mil famílias". São pessoas para quem a emigração é a única porta de saída. “Agora é muito pior”, conta a Irmã Myri, referindo-se às consequências da explosão que atingiu duramente o bairro de Achrafieh, constituído por “cristãos resistentes, que não emigraram, que ficaram no Líbano apesar de tudo”.
Reiterando as palavras da Irmã Maria Lúcia Ferreira, o Padre Samer Nassif, especialista da Fundação AIS para as questões relacionadas com o Líbano, afirmou que a explosão na região portuária de Beirute provocou, “num segundo, mais danos ao bairro cristão do que durante os longos anos de guerra civil”. A violência foi de tal magnitude, disse ainda este sacerdote, que será preciso “reconstruir o bairro do zero”.
A AIS recorda que o Líbano "vive uma das mais profundas crises económicas da sua história, com uma desvalorização gigantesca da sua moeda, a paralisia do sistema bancário, desemprego e mesmo fome". Esta situação, "já de si tão difícil, agravou-se profundamente com a brutal explosão que sacudiu a cidade de Beirute no dia 4 de Agosto e isso tem repercussões entre a comunidade cristã".
Perante esta tragédia que atingiu a cidade de Beirute e a própria comunidade cristã, a Fundação AIS decidiu logo na ocasião enviar uma ajuda de emergência no valor de 250 mil euros destinada sobretudo à compra de cabazes alimentares.