Paula Teixeira da Cruz acredita que há uma real vontade de Rui Rio de uma aproximação ao Chega, e que esse desejo não é apenas aparente.
À Renascença, a ex-vice-presidente do PSD diz acreditar que esta é uma estratégia da atual direção do partido, “por não conseguir descolar nas sondagens”.
Questionada sobre se ficou surpreendida com as declarações de Rui Rio sobre um eventual acordo com o Chega, a antiga ministra diz que não.
“Não, não fiquei. Já tinha havido por parte do Dr. Rui Rio e sua direção um conjunto de iniciativas que direi que não são compatíveis com a matriz de liberdade do PSD. Quer na guerra interna que travou e trava, quer na disciplina que impõe”, afirmou Paula Teixeira da Cruz, em declarações à Renascença.
Recentemente, o presidente do PSD admitiu conversações com o Chega com vista a entendimentos eleitorais apenas se o partido evoluir “para uma posição mais moderada”, dizendo descartar essa possibilidade se esta força política “continuar numa linha de demagogia e populismo”.
A social-democrata ressalva que esta “não é uma aproximação do PSD”, que tem uma matriz ideológica clara, a social-democracia. “É do atual líder do PSD e da sua direção. O intuito será, eventualmente, porque não consegue descolar nas sondagens, fazer uma operação meramente aritmética e diria quase que assética, sem nenhuma conotação que respeite o património do partido”, considera Paula Teixeira da Cruz, sublinhando que não vale tudo.
“As meras contas de aritmética, assim vistas em política, nunca são boas de fazer, porque não vale tudo a todo o preço”, diz a advogada.
Questionada sobre as comparações entre a geringonça e um eventual acordo entre o PSD e o Chega, Paula Teixeira da Cruz diz também não ter visto legitimidade nos acordos do PS com partidos que classifica de extremistas.
“Eu não vi legitimidade no acordo que o PS fez com partidos extremistas. Portanto também não vejo legimitidade em qualquer acordo que a atual direção do PSD queiram fazer com um partido extremista”, considera.
Ainda assim, a antiga vice-presidente do PSD vê também com preocupação a possibilidade de haver um bloco central, como existiu recentemente no tema da frequência dos debates com o primeiro-ministro e do aumento do número necessário de assinaturas para que as petições públicas sejam discutidas no Parlamento (esta última vetada entretanto pelo Presidente da República).
“Aqui estamos já noutro patamar, num patamar de empobrecimento democrático claro”, afirma Paula Teixeira da Cruz.
“Não podemos deixar de concluir que se traduz numa forma de não se fiscalizar nem o governo nem o maior partido. A pobreza que neste momento existe no maior partido da oposição”, lamenta.