​Abusos. “É do interesse da Igreja que todas as situações sejam apuradas”
28-07-2022 - 19:17
 • Susana Madureira Martins, com Ricardo Vieira

Coordenador da comissão independente diz que por dever de neutralidade não comenta notícia sobre alegado caso de abusos na Diocese de Lisboa.

O coordenador da Comissão independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja, Pedro Strecht, recusa comentar a alegada ocultação de uma denúncia de abusos sexuais pelo cardeal patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente.

O pedopsiquiatra Pedro Strecht foi recebido esta quinta-feira pelo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.

Em declarações aos jornalistas no final do encontro, Pedro Strecht disse aos jornalistas que deseja manter-se neutro em relação a este assunto, não querendo confirmar a existência ou não deste caso.

“Se eu fosse responder diretamente estaria a dar a minha opinião pessoal, que não posso dar. É por isso que somos uma comissão independente, temos que ser neutros em relação a essas questões, não estar nem pró nem contra essas questões.”

Pedro Strecht sublinhou, no entanto, que “quem pediu o trabalho à comissão independente foi a Conferência Episcopal Portuguesa, que engloba os 21 bispos diocesanos e o senhor cardeal patriarca”.

“Portanto, é do interesse da Igreja Católica que todas as situações sejam apuradas, nomeadamente aquelas que aconteceram no passado, para prevenir e para que o futuro possa correr melhor em todas estas circunstâncias que dizem respeito ao bem estar das nossas crianças e adolescentes”, frisou.

Pedro Strecht diz ainda que o número de testemunhos tem vindo a aumentar. De momento já existem 362 depoimentos sobre abusos e mantém-se o número de 17 casos entregues ao Ministério Público, sendo que quatro deles já terão sido arquivados, segundo o pedopsiquiatra.

O coordenador da comissão independente mantém ainda o calendário até ao fim do ano para apresentar as conclusões deste estudo.

O Patriarcado de Lisboa confirmou esta semana que recebeu, no final da década de 90, uma queixa contra um sacerdote por alegados abusos sexuais e garante que, na altura, foram "tomadas decisões tendo em conta as recomendações civis e canónicas vigentes". À época era patriarca o cardeal D. José Policarpo.

Numa nota de esclarecimento enviada à Renascença, o Patriarcado explica que o cardeal D. Manuel Clemente se encontrou com a vítima, duas décadas depois, mas que esta não quis divulgar o caso.

O jornal digital "Observador" noticiou na terça-feira que o caso não teria sido reportado às autoridades civis e que o padre em causa continuou no ativo, com funções de capelania e a gerir uma associação privada de acolhimento de famílias, jovens e crianças.

O Presidente da República comentou o caso. Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, pessoalmente, não vê razões para que D. José Policarpo ou D. Manuel Clemente tenham “querido ocultar da justiça” crimes, escusando-se a fazer “juízos específicos” sobre a alegada ocultação de uma denúncia de abusos sexuais.