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Humanizar Portugal é o lema de um manifesto lançado, esta terça-feira, pelo movimento da sociedade civil STOP Eutanásia. O documento pede mais cuidados paliativos, mais serviços de saúde e humanização dos cuidados clínicos.
Numa altura em que o tema da eutanásia volta a estar na agenda politica, e com votação marcada para dia 20, o movimento promoveu um debate sobre o tema.
António Gentil Martins foi um dos oradores. O conhecido médico-cirurgião afirma que o medo da dor e do sofrimento não justifica o fim da vida, porque a medicina evoluiu e é possível aos doentes viverem sem dor e com dignidade.
Na iminência de a eutanásia ser aprovada na Assembleia da República, os bispos portugueses saíram em defesa de um referendo para que os portugueses possam ser chamados a decidir.
Gentil Martins considera que o referendo, apesar de ter uma “boa intenção e ser correto”, é “erro” e precipitado, “tal como os projetos de lei dos partidos”, porque “as pessoas não estão suficientemente esclarecidas”.
“Qualquer decisão que fosse tomada agora a nível populacional, é uma decisão que pode ser moralmente impugnada, não pode ser legalmente impugnada. Estamos numa democracia, se o povo disse sim ou não, é sim ou não. No Parlamento, podemos dizer que este Parlamento é bom e outro que venha é melhor. A decisão que este tomou pode ser revogada pelo próximo”, defende o médico.
Presente no lançamento do manifesto STOP Eutanásia, esteve Fernando. Está numa cadeira de rodas e convive há mais de uma década com a esclerose lateral amiotrófica, doença que afeta o sistema nervoso de forma degenerativa e progressiva de forma irreversível.
Fernando confessou perante a plateia que desejou a morte, porque não tinha apoios nem condições de vida, mas mudou de posição.
“O que acontece com as pessoas que falam em eutanásia e querem morrer, eu acho que isso só acontece porque as pessoas não têm condições de vida. Dizem que as pessoas devem ter uma morte digna e eu pergunto: então porquê uma morte digna e não uma vida digna?”, afirma Fernando.
Conceição Lourenço, mãe de um jovem de 14 anos com deficiência profunda, uma das mentoras do movimento Filhos sem Voz, defendeu também uma maior atenção às dificuldades da vida antes de se pensar em facilitar a morte.
“O facto de as pessoas não terem cuidados paliativos dignos é meio caminho andado para as equacionarem poder morrer”, afirma Conceição Lourenço.