“A situação no Líbano está muito, muito má. Estão a passar fome, os frigoríficos estão vazios”. O alerta é lançado pela irmã Maria Lúcia Ferreira, da Congregação das Monjas da Unidade de Antioquia, em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, em Lisboa.
Esta religiosa portuguesa, conhecida como Irmã Myri, pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia e vive no Mosteiro de São Tiago Mutilado, na vila de Qara, na Síria, mas a sua comunidade religiosa está presente também no Líbano.
E é de lá que lhe chegam relatos do agravamento acentuado da crise económica, a ponto de as famílias que pertenciam à classe média, “habituadas a viver muito bem”, estarem já “numa situação de pobreza, de fome”.
“Dizem-nos as nossas irmãs que famílias que estavam bem, telefonam a dizer ‘peço desculpa, mas as nossas crianças estão a passar fome, já não temos [comida], os nossos frigoríficos estão vazios.’… Esta é um bocadinho a situação geral…, sobretudo entre os cristãos, a situação é assim”, descreve a Irmã Myri.
Para agravar esta situação, a religiosa portuguesa conta que desde o dia “22 de junho, deixou de haver eletricidade estatal no Líbano”.
“Quer dizer que muitas famílias vão ficar às escuras, nem poderão carregar um telefone, etc. No outro dia, a nossa madre [Agnès de La Croix, que está no Líbano] quase chorou no encontro vídeo [com o mosteiro em Qara], porque, realmente, as pessoas estão a passar fome”, conta a religiosa.
A crise económica e financeira no Líbano poderá ser uma das mais graves do mundo nos últimos 150 anos, alerta um relatório do Banco Mundial divulgado no início do mês.
O Banco Mundial refere que desde finais de 2019 o Líbano enfrenta desafios que atiram o país para a sua maior crise económica e financeira em tempos de paz, nomeadamente os efeitos da pandemia de Covid-19 e os reflexos políticos e sociais da explosão no porto de Beirute, em agosto de 2020.
Cimeira convocada pelo Papa vai debater a situação do Líbano
Os principais responsáveis das comunidades cristãs do Líbano reúnem-se, a convite do Papa, no dia 1 de julho, para implorar a paz e a concórdia para aquele país do Médio Oriente. O programa do encontro “Juntos pelo Líbano” inclui sessões de trabalho e diversos momentos de oração.
O encontro tem início na Casa de Santa Marta, residência do Papa Francisco, às 8h30 (menos uma hora em Lisboa), prosseguindo em procissão até à Basílica de São Pedro, com os responsáveis das comunidades cristãs libanesas e os membros das várias delegações.
Aos líderes das comunidades católicas - como o Patriarca maronita cardeal Bechara Boutros Raï, o siro-católico Ignace Youssef III Younan, o melquita Youssef Absi, o bispo caldeo S.E. Michel Kassarj e o vigário apostólico latino, monsenhor Cesar Essayan - também se juntam diversos representantes das igrejas cristãs não católicas.
As conversações vão decorrer à porta fechada, no Palácio Apostólico do Vaticano, em três sessões, encerrando-se com uma oração ecuménica pela paz.
A Fundação AIS, através do seu presidente executivo internacional, já manifestou o apoio incondicional a este encontro, lembrando que o Líbano “precisa das nossas orações e da nossa solidariedade com mais urgência do que nunca”.
Segundo Thomas Heine-Geldern, o Líbano “é o eixo e a pedra angular do cristianismo no Médio Oriente”, sendo também “o símbolo da coexistência pacífica entre religiões”.
O presidente executivo internacional da AIS assegura ainda que instituição a que preside acompanha tudo o que diz respeito ao Líbano – “o lar de uma das maiores comunidades cristãs em todo o Médio Oriente” – com muita atenção, “através dos seus parceiros de projetos” a nível local.